Na maior parte, vou tentar comentar e indicar filmes que estejam um pouco fora do circuito comum, pra trazer algumas novas e diferentes opções. E como gosto de filmes antigos também, alguns vão aparecer.
Lógico que nem sempre as opiniões valerão para todos... cada um realmente tem gosto e interesse diferentes!
Vossos comentários e opiniões serão bem vindos!

Um forte abraço e um aperto de mão leve...

terça-feira, 27 de novembro de 2012

O RETORNO - 2003

Você não esquecerá tão fácil esse filme...


Já estava flertando este filme há algum tempo, mas não sei porque já o tinha esquecido entre outras opções que estavam em minha lista. Estou tremendamente arrependido de não tê-lo assistido antes. É uma pérola. E nem tão escondida assim.

Ganhador de inúmeros prêmios (ator, diretor, cinematografia e filme) em diversos festivais, principalmente europeus, este filme russo (nome original Vozvrashchenie) também concorreu em 2003 com Adeus Lenin e As Invasões Bárbaras ao prêmio de melhor filme estrangeiro no Globo de Ouro. Nenhum deles venceu, mas sua participação já é válida e talvez até merecesse maior sorte.

É um filme com inúmeros destaques e fica difícil mencionar todos aqui, mas alguns são bastante evidentes. Antes disso, vale passar uma ideia da história do filme. Nela, dois irmãos vivem aparentemente uma infância comum. Criados pela mãe e talvez pela avó também, isso não fica muito claro, brigam entre si e procuram ser aceitos pelos amigos como qualquer criança comum. Esta parte já sabemos nos primeiros 5 minutos, quando então acontece a virada que movimenta a trama. O pai, que até então não existia ou estava desaparecido, aparece sem motivo aparente e provoca diferentes sensações e atitudes entre os garotos.
 
O caminho em que a história nos leva, que poderia ser um típico relacionamento de superação entre pai e filhos, terá dimensões maiores e surpresas. É claro que é um filme europeu, portanto já é esperado aquela cadência habitual deste tipo de cinema. Se estiver preparado para isso, você não irá se arrepender. O fato de ser de certa forma lento, poderá contar a seu favor no resultado final. 
 
A reviravolta, que não cabe a mim dizer qual é e quando será, poderá deixá-lo confuso, mas irá trazer novas ideias e pensamentos, pode acreditar. O drama se torna um enigma, interpretativo e cheio de simbolismos. Tem muita coisa a ser descoberta ainda. A certeza é que você não o esquecerá tão cedo.
 
 
Os personagens, sem contar as ótimas interpretações, são excepcionais. A oposição entre os irmãos e a insensibilidade do pai são convincentes e descartam o melodrama básico em que o filme poderia cair. Ponto positivo para o roteiro. E juntando tudo isso com uma boa produção e belas locações, temos um filme quase completo. Só falta eu assistir de novo.
 
O bacana é que estes filmes enigmáticos geralmente tem fóruns fervorosos na internet. Dito e feito. O curioso destes fóruns é que a maioria interpreta da forma que quer e ideias mirabolantes, e até engraçadas, aparecem. Uma delas, a referência de uma cena com um quadro artístico, valeu a pena. Certamente não teria percebido a relação entre eles sozinho. Obrigado amigo do fórum. Só comentarei esta cena com aqueles que já assistiram (sem spoilers aqui!)...
 
Facilmente encontrado nas locadoras e na internet, fica aqui esta dica que pode agradar, talvez não a todos.

http://www.imdb.com/title/tt0376968

terça-feira, 13 de novembro de 2012

ARGO - 2012

Suspense/Espionagem para agradar todos, sem exceção.


Poucos associam Ben Affleck aos bastidores do cinema, até pelos inúmeros filmes blockbusters em que esteve presente como ator. Para citar alguns, de cabeça lembro Armageddon, Pearl Harbor, Demolidor, A Soma de Todos os Medos, entre outros. Sem dúvida, grandes produções para grandes públicos, mas nada muito especial ou marcante. Porém, após sua co-autoria junto à Matt Damon em Genio Indomável, que rendeu para eles o Oscar de Melhor Roteiro, foi um pulo para chegar na direção. E como diretor, Ben Affleck está ficando ainda melhor.

Em seu primeiro filme como diretor, Medo da Verdade, já havia mostrado talento, mas agora com Argo, seu potencial foi além. O filme é quase impecável e capaz de entreter ao mesmo tempo em que se aprofunda em seus temas. Potencialmente é um filme para agradar a todos os públicos, sem exceção. Do mais exigente ao menos, pode acreditar.

A história, baseada em fatos reais, se passa no fim dos anos 70 e tem como pano de fundo a invasão dos iranianos na embaixada americana de seu país. Um grupo grande de revolucionários, revoltados com o governo americano, invadem e mantém como reféns os funcionários da embaixada, menos seis pessoas que conseguem escapar e se esconder na embaixada canadense. Em momento político muito delicado entre os EUA e o Irã, a CIA, através do agente Tony Mendez (Ben Affleck), bola um plano de resgate destes seis americanos, completamente diferente e questionável. Este plano envolve uma produção hollywoodiana de um falso filme de ficção científica chamado Argo com locações no Irã. Essa é a saída para entrar no Irã e cumprir a missão.

Com inúmeros pontos fortes, o filme tem alguns bem evidentes. A ambientação e fotografia do final dos anos 70 impressiona bastante, inclusive com a caracterização dos personagens que se aproximam bem aos verdadeiros, visto na comparação nos créditos finais. O estilo retrô é perfeito.

O roteiro é inteligente e bem cuidado. A dramatização do fato real, que pode ser além da conta em alguns momentos, conta a favor também. Não me lembro de ter ficado tão tenso com uma cena de apresentação de passaportes e vistos, em um aeroporto, como fiquei neste filme. E não somente neste momento, a tensão toma conta de 90% da história.


E independente de nossa expectativa e até torcida pelo resgate dos americanos, a história não defende um dos lados ou mostra quem está certo e quem está errado, mas tem o cuidado de expor as atitudes extremas e a causa, visto na própria introdução do filme. E ainda de quebra, o diretor satiriza a indústria do cinema, principalmente Hollywood, ironicamente em boas doses. Além do filme ser essencialmente um suspense político de espionagem, tem boas piadas também.

Enfim, Argo teve estréia nos cinemas neste último final de semana e vale a procura, não só como uma boa apresentação  de um fato histórico, mesmo que dramatizado, mas também como entretenimento dos bons. Há rumores de que será lembrado para o próximo Oscar. Eu apostaria em uma indicação para direção de arte, pelo menos. Recomendado.


terça-feira, 30 de outubro de 2012

O ENIGMA DO OUTRO MUNDO - 1982

O diretor John Carpenter e seu blockbuster?


Ser um diretor cultuado nos gêneros ficção e terror não é para qualquer um. E isso, definitivamente, John Carpenter é. Com altos e baixos em sua filmografia, não dá para negar que ele tem valor para o cinema. Geralmente administrando baixos orçamentos e produzindo filmes quase considerados B, compensa a falta de recursos com criatividade e certa ousadia.
 
Marcou o cinema no final dos anos 70, quando fez Halloween um de seus primeiros filmes. Alí nasceu um dos mais marcantes serial killers do cinema, Michael Myers. E com ele, Carpenter praticamente inaugurou, mesmo havendo controvérsias sobre isso, uma espécie de sub-gênero para os filmes de terror, os slasher movies. A partir de Halloween, este gênero secundário se tornou muito popular, principalmente nos anos 80, e desencadeou uma enormidade de filmes muito parecidos. O mais bem-sucedido, superando o próprio Halloween, foi a série Sexta-feira 13, com a presença dele... Jason.
 
Agora, deixando de lado este assunto, que daria um outro post, e falando mais sobre o filme em questão aqui, O Enigma do Outro Mundo, é possível dizer que este seja um dos melhores filmes do diretor, talvez seu melhor em minha opinião. Não porque parece ser o maior orçamento que já trabalhou (mesmo sendo de 1982 os efeitos especiais não decepcionam), mas o conjunto da obra é de alto nível para um gênero, de certa forma, carente de bons exemplos.
 
A comparação com Alien talvez seja inevitável, até porque O Enigma do Outro Mundo foi realizado pouco tempo depois e o sucesso do primeiro pode ter sido o fator de viabilização do segundo, mas, mesmo assim, isso não prejudica em nada o interesse porque se você gostou de um, gostará do outro com certeza.
 
A história é simples. Um grupo de cientistas/pesquisadores americanos está alocado em uma base na Antartida (bela ambientação do filme, por sinal). A rotina deles muda quando aparecem dois cientistas noruegueses perseguindo e tentando matar um cachorro que vai de encontro a base americana. Com o tempo, os americanos entendem porque os noruegueses queriam matar o cachorro, sem sucesso, e a relação dele com todo o grupo de cientistas noruegueses mortos. 
 
É notável a diferença deste filme do diretor em relação à grande maioria de seus outros filmes, principalmente quando falamos em orçamento. A produção é bem caprichada. Os efeitos especiais e a maquiagem são comparáveis às grandes produções, principalmente para a  época em que foi feito. A trilha sonora, também de alto nível, é composta por um dos mais renomados compositores do cinema, Ennio Morricone. E mesmo que o diretor tenha em mãos maiores recursos, o filme não deixa de ter a sua marca.


De nada valeria a boa produção se o resto não estivesse à altura... E está. Como poucos fazem, Carpenter consegue prender a atenção do espectador do início a fim. O roteiro não é 100% e tem seus furos, mas a sensação de paranóia dos personagens e o clima de mistério que toma conta geral da trama, fazem esquecer as pequenas inconsistências da história. Algumas cenas impressionam, mesmo vendo o filme hoje, e assustam. Ou seja, para o que se propõe a fazer, John Carpenter faz um filme competente e bem acima da média do gênero.
 
Enfim, é uma ótima pedida para quem procura este estilo de filme, até porque, como hoje em dia um bom exemplo deste tipo é raro, vale mesmo suprir a vontade vendo bons clássicos como esse. Recomendado com moderação, para aqueles que não se impressionam facilmente com algumas cenas que podem provocar indigestão.
 

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

COSMÓPOLIS - 2012

Cronenberg de volta as raízes?


Após um período fazendo cinema mais direcionado para o público geral, sem deixar de trazer alguns momentos que definem seu estilo, eis que Cronenberg retoma seu lado perturbador e polêmico, e que o fez ser tão cultuado como é, nesta sua última realização chamada Cosmópolis. Não que seus últimos trabalhos tenham sido ruins, pelo contrário, Um Método Perigoso, Senhores do Crime e Marcas da Violência são ótimos filmes e de altíssimo nível, porém seus mais fiéis seguidores certamente contavam com seu retorno, em algum momento, as suas raízes na linha de Gêmeos, A Mosca, Videodrome e Scanners.
Pois é, o velho Cronenberg está mais próximo de suas raízes em  Cosmópolis. Longe de ser bizarro como nos trabalhos mais antigos citados, o diretor retorna, neste novo longa, aos personagens enigmáticos e situações nada convencionais.
Assim acompanhamos, desde o início da história, o ator principal do filme, Robert Pattinson, o conhecido vampiro boa praça da série Crepúsculo. Ele é Eric Packer e representa um típico homem de negócios do mundo atual, jovem, bilionário e excêntrico. Entende o mundo das ações como poucos e utiliza sua inteligência em benefício próprio.
A aventura desse anti-herói  inicia com sua vontade de cortar o cabelo. Como é uma pessoa visada, atravessar alguns blocos para realizar esta tarefa, mesmo que de carro, requer muita atenção de seu “staff” para garantir sua segurança. Percorre o caminho em sua limusine, ao mesmo tempo em que encontra diferentes personagens de sua vida profissional e pessoal.
Cosmópolis é um prato cheio para os fãs de Cronenberg. Não traz personagens tão complexos, mas os perturbados e problemáticos, que sempre apreciou, estão aqui. E não de graça. Há um tom geral de superficialidade que certamente reproduz o mundo social do business man moderno. Claro que de um jeito bem característico do diretor.

O filme é conduzido, na maior parte, dentro da limusine de Eric, onde ele passa por situações inusitadas, como por exemplo, um exame de próstata que faz ali dentro mesmo. Os diálogos são, quase todos, surreais, como se a intenção do diretor fosse transformar o mundo financeiro de Eric em algo inverossímil ou em um sonho. David Lynch assinaria embaixo. E a presença curta, mas marcante de coadjuvantes de peso como Juliete Binoche e Paul Giamatti, também ajudam bastante no resultado final.

 
O filme é um desafio completo. Um desafio para o diretor, que tenta retomar seu lado mais obscuro, outro desafio para o público que tem de aceitar, apreciar e entender suas ideias, e um desafio ainda maior para o ator principal, que tenta fazer o público esquecer a sua referência de rapaz romântico e bonzinho para ser um personagem detestável.  E ele consegue.
Agora, pra finalizar, vale dizer que este filme não foi bem recebido pela crítica em geral e pelo público. Não me importo e o recomendo, mesmo não o colocando entre as melhores obras do diretor. Está ainda nos cinemas e para aqueles que quiserem encarar o desafio, fica aí a dica.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

NÃO ME ABANDONE JAMAIS - 2010

Preparem os lenços!


Gosta de filmes depressivos? E extremamente depressivos?

Fato: independente do clima pesado, este filme é tecnicamente impecável, tem boa história e fotografia de alto nível. Tem romance? Posso até dizer que sim, mas passa longe do água com açucar. É melancólico como poucos que já vi. Depois dos primeiros 15 minutos, quando sabemos onde a história vai chegar, um lenço no bolso será bem vindo. Agora, porque assistir um filme como esse? Porque é bom, simples assim.

A história gira em torno da vida de três personagens aparentemente comuns, Ruth, Kathy e Tommy. Encontram-se ainda crianças em um colégio extremamente rígido, onde não tinham contato com o mundo exterior. Com o tempo se tornam mais próximos um do outro. A princípio, não parecem ter uma infância ou adolescência tão incomum, até que uma nova professora conta para eles, e para os outros alunos do mesmo colégio, que o futuro deles é diferente. Ela os prepara para o destino previamente definido para cada um.

A base da história é fantasiosa e ambientada em uma realidade alternativa a nossa, mas é difícil considerar esse filme como ficção. O apelo dramático é dominante e o assunto atual. Pode não ser tão original em seu conceito, outros filmes já abordaram assuntos semelhantes aos tratados aqui, mas é inegável a competência com que foi realizado.

O clima sombrio, triste e com cenas difíceis de digerir, é balanceado com momentos até sensíveis e delicados, pode acreditar. Fica clara a intenção do diretor em criar um filme forte, mas sem ser apelativo. E consegue fazer isso bem. Sem dúvida, não é um filme que vai se apagar tão cedo de sua memória.

O elenco principal é o fino da nova safra de atores, que inclui Andrew Garfield, de A Rede Social e o novo Homem-Aranha, Keira Knightley, do recente Um Método Perigoso do David Cronenberg, e também Carey Mulligan, do ótimo Drive.

É um  filme que recebeu alguns prêmios em festivais menores, o que já pode valer como uma boa referência. Já lançado em DVD e em Blu-Ray, e fácil de achar, recomendo para quem gosta de acompanhar filmes de impacto e não se importa muito em acompanhá-lo com uma certa tristeza no coração...
 
http://www.imdb.com/title/tt1334260

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

KILL LIST - 2011

Boa e estranha pedida do cinema independente inglês.


Ao estilo "ame ou odeie", pelo que percebi, este filme ao menos gerou repercussão em alguns festivais que participou entre críticos e público, gostando ou não. É um filme independente britânico, de baixo orçamento, com um elenco quase desconhecido e um diretor praticamente estreante. Confesso que minha expectativa inicial não era das melhores, principalmente porque o nome também não ajuda. Porém, a surpresa é que não é um simples filme de ação, como o nome pode sugerir.

A história é a seguinte: Jay é o protagonista que está desempregado há 8 meses e tem um relacionamento conturbado com sua esposa. Ele também é uma espécie de matador de aluguel nas horas vagas.  Surge para ele uma nova oportunidade no mercado "paralelo" e aceita, acompanhado de seu melhor amigo. Este trabalho é um plano para assassinar 3 pessoas e chama-se Kill List. O problema é que Jay é um pouco descontrolado e este plano poderá tomar outros rumos.

Até aí, nada de muito novo, mas a história não é tão simples quanto parece. Os momentos mais violentos, típicos de filmes de ação e bem filmados por sinal, junto com personagens perturbados, serão revirados quando o horror psicológico tomar conta do filme. Soa estranho essa mistura, mas funciona bem aqui.

O elenco quase desconhecido convence bem, mas a força maior fica com a direção e o roteiro que são, no mínimo, ousados. Com câmera de mão usada em boa parte das cenas, que não nega o estilo low budget, a narrativa incomum, que mistura gêneros e pode até não ser das mais agradáveis, é provocativa e interpretativa. Claramente o filme quer confundir o público e gerar debate e discussões aos mais empolgados. E para completar a experiência, os 10 ou 15 minutos finais são de tirar o fôlego.


Não é sempre que saímos de um filme com uma confusão na cabeça, no melhor sentido. Na verdade, tenho vontade de revê-lo, assim que possível, para matar aquela sensação de que várias mensagens durante o filme explicam melhor seu final, ou talvez ter uma interpretação alternativa, ou até descobrir mesmo que não é necessário interpretação nenhuma...

De qualquer forma, provavelmente, a intenção do diretor não é tornar essa tarefa fácil. Portanto, quem se interessar, verá um filme diferente com certeza, mesmo não gostando. Recomendo.



terça-feira, 10 de julho de 2012

CAFE DE FLORE - 2011

Pra começar, a trilha sonora é de primeira...


O diretor canadense do excelente C.R.A.Z.Y de 2005, Jean Marc-Vallé, acerta também com este Cafe de Flore. Apesar de ser um diretor com ainda pouca experiência, é possível perceber um estilo próprio quando comparamos estes dois filmes. Tem talento, sem dúvida, e está na minha lista para ser acompanhado em suas próximas realizações.

Novamente investe em uma história sobre relacionamentos familiares com personagens imperfeitos, onde desenvolve, com competência, uma narrativa não linear, obrigando a quem assiste muito mais atenção. Bom sinal, pelo menos para mim, principalmente porque esta estrutura de filmagem  faz o filme funcionar bem.

Na história, que parece um quebra-cabeça, existem três personagens principais em dois tempos diferentes: um bem-sucedido DJ e sua ex-esposa, no tempo atual, e uma mãe solteira com seu filho deficiente, no final dos anos 60. O DJ e sua ex-esposa vivem momentos diferentes. Ele feliz com um novo relacionamento, enquanto que ela enfrenta dificuldade para encarar a vida após a separação. Enquanto isso, também acompanhamos a mãe solteira e os problemas diários de seu filho com Sindrome de Dawn. Convém não procurar mais informações sobre a história para não estragar certas surpresas.

A forma como as cenas são apresentadas e a montagem são de gente que sabe o que faz. Não há cenas longas, praticamente apenas cenas curtas com cortes abruptos, e sem ordem com os personagens, mas se encaixam muito bem com o tempo. Requer uma concentração maior do espectador e talvez um pouco mais de paciência, mas mesmo que pareça confuso no início, sua narrativa não é difícil de acompanhar ou complexa. Os cortes rápidos parecem ser cuidadosamente calculados.

Além disso, como acontece em C.R.A.Z.Y, que tem uma trilha sonora anos 70 de bom gosto com Pink Floyd, David Bowie e outros, o som psicodélico retorna neste filme também, principalmente quando ouvimos logo no início a Breath do Pink Floyd, que chega a arrepiar... Confesso que esta preferência musical do diretor, me faz dar muitos pontos a favor para o filme, é claro! E talvez uma boa sacada dele seja mesmo esta boa escolha musical, mas o que torna engenhoso de sua parte é a conexão que faz da trilha sonora com os personagens.


Enfim, não tenho ideia se será ou quando será lançado no Brasil. Também não duvido que saia nos cinemas este ano mesmo, mas provavelmente demore um pouco. Quem tiver interesse pela ideia do filme e não quiser esperar muito, na internet está bem fácil de achar. E vale indicar o filme anterior deste mesmo diretor também, C.R.A.Z.Y, que não escrevi aqui no blog, mas vale a pena. Ambos de alto nível.

http://www.imdb.com/title/tt1550312/

quarta-feira, 6 de junho de 2012

O HOMEM DE PALHA - 1973

Sem dúvida, um filme B de muito respeito.


É bom redescobrir alguns filmes antigos e ver que mesmo depois de muitas décadas, continuam bem recomendáveis. Este é o caso do O Homem de Palha de 1973 que revi nestes últimos dias. Como escrevi acima, é um filme B de respeito. Um exemplo de uma boa e ousada execução com baixo orçamento.

Para quem conhece o astro de terror Christopher Lee, presente em inúmeras produções da Hammer - produtora britânica de incontáveis filmes de horror com Vincent Price e Peter Cushing também - poderia encarar O Homem de Palha como mais um filme com o estilo tradicional da produtora, porém quem ainda não viu, terá certamente uma surpresa, se fizer esta comparação prévia. Até porque a produtora é outra, mas confunde muitos até hoje.

Falando um pouco sobre a história, o personagem principal, Sargento Howie, recebe uma carta que menciona o desaparecimento de uma menina em uma ilha escocesa bem afastada e pequena chamada Summerisle. O que poderia ser uma investigação simples, se torna um choque cultural para o Sargento quando ele começa a conhecer os habitantes desta ilha. Aparentemente normais no início, levam uma vida liberal, em diversos sentidos, e completamente oposta ao Sargento, um católico fervoroso. Ao ter contato, através de sua investigação, com os primeiros moradores, em pouco tempo o Sargento conhece o responsável por este diferente modo de viver dos habitantes, Lord Summerisle (Christopher Lee).

Por mais que esteja classificado como horror, este filme é muito mais do que um típico exemplo do gênero. Há elementos que podem tranquilamente confundir quem o assiste. A história é na verdade, essencialmente, um suspense psicológico. Traz certa dramaticidade e ainda, por mais estranho que possa parecer, também é musical. Isso mesmo, musical! Na verdade, o que conta é sua atmosfera sombria que perturba e perturbará muita gente que ainda não teve a oportunidade de ver, mesmo que o filme não tenha praticamente uma cena com sangue. Não à toa, chegou ao status de cult e descobri que figura entre os 100 melhores filmes britânicos já realizados, segundo o British Film Institute (BFI).

O roteiro inteligente e bem estruturado de Anthony Schaffer, que havia escrito um ano antes o ótimo Trama Macabra com Michael Caine, é um exemplo de uma história bem contada. Lentamente se revela e traz uma sensação frequente de que algo ruim poderá acontecer a qualquer momento. E não decepciona.

Os diálogos travados pelas duas figuras opostas principais são muito curiosos. E os personagens bem construídos trazem mais do que simples discussões culturais ou até religiosas... Seus comportamentos são estranhamente envolventes. A parte musical é um caso à parte e chega até a divertir em certos momentos, em outros pode até assustar. E também vale mencionar a bela ambientação interiorana escocesa que ajuda a criar o falso clima amigável dos moradores da ilha.


Um curiosidade: Christopher Lee considera sua interpretação neste filme a mais importante de toda sua carreira, segundo o documentário The Wicker Man Enigma, presente inclusive nos extras do DVD. Curioso também é que ele aceitou fazer o personagem sem custo algum para a produção, por acreditar no potencial do filme. E teve razão.

Talvez valha a pena evitar a refilmagem realizada em 2006 com Nicolas Cage no papel principal. Confesso que não assisti, mas além de ter sido muito criticada, basta apenas ver o trailer e ler a sinopse para realmente evitá-la. As mudanças na história e nos personagens são incompreensíveis. E vale novamente dizer que o ator principal é... Nicolas Cage.

Enfim, mesmo assistindo hoje depois de diversas décadas de seu lançamento, este filme ainda impressiona e merece a repercussão que teve, além também do culto por sua legião de fãs.

sábado, 19 de maio de 2012

QUERIDA VOY A COMPRAR CIGARRILLOS Y VUELVO - 2011

Diretores de O Homem do Lado acertam novamente.


Após a realização do ótimo O Homem do Lado, os diretores argentinos Mariano Cohn e Gastón Duprat retornam em mais um drama/comédia de alto nível. Reafirmam mais uma vez a excelente fase do cinema de nossos vizinhos. Como acontece no filme anterior, a dupla desenvolve uma boa história repleta de humor negro e crítica à vida cotidiana. Sem dúvida aprenderam bastante com os irmãos Coen... com marca e estilo próprios, é claro.

Mesmo que a história tenha uma premissa de um filme de ficção, é na verdade um pano de fundo para o pessimismo e a mediocridade do ser humano. Isto se mistura com um humor afiado e inteligente que está se tornando uma marca registrada dos diretores. Talvez neste filme seja até mais evidente, que o anterior, a intenção de criar cenas divertidas em momentos de desgraça.

O filme é baseado em um conto do escritor argentino Alberto Laiseca que, inclusive, faz parte do elenco sendo o próprio narrador da história. Já no início ele narra como um homem comum se transforma em um imortal. Este homem, ao invés de aproveitar seu dom, decide viver no anonimato. Com poderes também de comandar tudo em sua volta, decide ajudar um senhor que conhece em um bar, chamado Ernesto, cuja vida parece ser monótona e sem grandes ambições. Faz uma proposta e lhe dá uma chance de voltar no tempo, há 10 anos atrás, com a cabeça experiente de seus 60 e poucos anos que tem hoje.

Com esta história de ficção, os diretores expõem a ideia de que mesmo com infinitas possibilidades, o ser humano faz escolhas medíocres. Eles expõem atitudes fundamentalmente egoístas do homem e trazem uma reflexão sobre a condição humana. Pode ser depressiva a forma como são passadas algumas mensagens neste filme, mas em diversos pontos diverte muito. É um contraponto bem interessante, sem dúvida.

Com inúmeras qualidades, vale mencionar os personagens interessantes criados pelo autor e, talvez o maior acerto do filme, ter o próprio autor como o contador da história. Ele é como um narrador à moda antiga. Daqueles que narram um conto com a plena consciência da história sem esconder os sentimentos pelos personagens.

Mesmo assim, no geral, não sei se é um tipo de filme que agradará a maioria. Tem um desenvolvimento lento, mas, ainda assim, recomendo pela boa ideia e pela execução bem acima da média. Passou no Festival do Rio no final do ano passado, mas ainda está sem previsão de lançamento e distribuição aqui no Brasil, pelo menos não encontrei notícia à respeito. Portanto, quem tiver interesse, somente encontrará este filme na internet. Boa pedida.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

O ANJO EXTERMINADOR - 1957

O cinema surreal clássico de Luis Buñuel.


Para quem aprecia surrealismo e cinema juntos, o nome é Luis Buñuel. Influente e reverenciado por muitos cineastas e cinéfilos, fez seu primeiro filme, O Cão Andaluz, ainda na época do cinema mudo. Foi sua porta de entrada para a sétima arte e um dos mais lembrados filmes surreais de toda a história do cinema. Na realidade é um curta metragem que apresenta cenas incomuns, sem ligação aparente, e não chega a vinte minutos. Uma grande viagem que gerou forte repercussão na época, realizada em parceria com Salvador Dalí, outro artista surrealista.

Entre outros inúmeros filmes surreais que fez após este primeiro, em 1957 fez O Anjo Exterminador, também seguindo a mesma linha, mas bem mais palatável. De qualquer forma, é mais um exemplo de seu cinema diferente que, desta vez, coloca os personagens em um único cenário, durante quase todo o filme. Na verdade, o que vale mesmo é falar o menos possível da história para que seu desenvolvimento seja surpreendente para quem assiste.

Para resumir a história, um grupo de pessoas da alta sociedade é convidado para um jantar comum, como qualquer outro que costumam participar. Só que após o jantar, sem qualquer explicação, os convidados não conseguem sair de uma determinada sala... Aparentemente nada os impede de sair, mas eles simplesmente não conseguem.

Talvez, ao invés de fazermos análises intelectuais, entender analogias, simbolismos ou se o tom do filme é político, vale mais acompanhar o desenrolar da história, sem aquele instinto de tentar decifrar as mensagens nas entrelinhas. É curioso ver pessoas da alta sociedade deixarem de lado a etiqueta e a máscara quando colocados em situações extremas...

Uma curiosidade: para aqueles que já assistiram o último filme do diretor Woody Allen, Meia-noite em Paris, lá existem inúmeras referências e brincadeiras com vários artistas de diversas áreas... Escritores, pintores e cineastas. E na história deste filme, Owen Wilson, o protagonista, encontra estes artistas pessoalmente no passado. Um dos mais engraçados encontros é quando ele encontra Luis Bunuel e brinca com a história do O Anjo Exterminador.

Não está entre os mais conhecidos do diretor como A Bela da Tarde ou O Discreto Charme da Burguesia, mas vale a pena procurar nas locadoras de acervos maiores ou pela internet mesmo. O cinema de Buñuel é, no mínimo, interessante.

http://www.imdb.com/title/tt0056732


terça-feira, 3 de abril de 2012

DRIVE - 2011

Será este um dos candidatos a filme cool da década?


A impressão que fica, ao terminar de ver este filme, é a de que tudo se encaixa. Um clássico cult instantâneo. Difícil descrever, mas até as cenas violentas, que não são poucas, são muito mais do que mera brutalidade. Baseado em um livro de James Sallis, tinha tudo para ser um novo blockbuster de ação como Velozes e Furiosos, mas se tornou algo muito além. O filme é cool demais, como diriam na "América"! Violento e cheio de estilo, Tarantino assinaria embaixo. E a trilha sonora? Perfeita...

O diretor dinamarquês Nicolas Winding Refn, pouco conhecido pelo público em geral, tem na violência parte fundamental de seus filmes anteriores, como a trilogia Pusher e o estranho Bronson. Só que com Drive, dá um passo largo para frente e coloca seu nome no cinema com a força que merece. Até porque entrou de vez no mercado americano.

Resumindo em poucas palavras, a base da história pode até parecer um filme de ação comum, o mocinho mexe com os vilões errados para depois salvar uma garota, mas só parece. É apenas a base mesmo e o filme em si tem uma linguagem muito mais atraente e com bem mais conteúdo. Isso é garantido...

E falando em conteúdo, para quem ainda não viu o filme, Ryan Gosling, que interpreta o Driver (motorista), trabalha em uma oficina de carros durante o dia e tem um trabalho paralelo como dublê em filmes, principalmente em cenas perigosas envolvendo carros. Só que ainda faz algo extra, mostrado logo no início. Ele é contratado para participar de roubos, mas apenas como motorista de fuga. O perigo real aparece quando se sente atraído por sua vizinha, Irene (interpretada por Carey Mulligan, que também está em Shame). Ela é casada com um presidiário prestes a sair da prisão.

Com aquele típico clima elegante de filme noir dos anos 40 e 50 e uma história de ação urbana ao estilo spaghetti-western anos 60 de Sergio Leone, Drive nos remete ainda aos anos 80 usando uma trilha sonora do tipo eletropop, uma das marcas desta época, com muito sintetizador e baterias eletrônicas. A melodia principal "A Real Hero", em tom de balada dramática, faz uma conexão mais que perfeita com o personagem principal.

E como Ryan Gosling escolhe bem seus filmes e personagens! Desde seus primeiros, Tolerância Zero por exemplo, vem marcando sua trajetória no cinema como um dos atores de ponta, tanto em Hollywood quanto em filmes alternativos. Neste papel em Drive, faz o melhor estilo Clint Eastwood de Sergio Leone... O herói misterioso sem nome, sem passado, solitário, frio e introspectivo que demonstra suas emoções apenas através de olhares e poucos sorrisos.

Diálogo para ficar na memória:
Irene para Driver: "O que você da faz da vida?"
Driver: "Eu dirijo"

Ainda em exibição em alguns cinemas é um programa imperdível para quem quiser acompanhar o filme cool do momento. Recomendo e muito!

http://www.imdb.com/title/tt0780504


quinta-feira, 22 de março de 2012

SHAME - 2011

Compulsão sexual tratada com o peso do problema.


Estreou nos cinemas, neste último final de semana, este que é o segundo longa-metragem do diretor Steve McQueen, que já havia impressionado com seu primeiro filme Hunger (importante não confundir o diretor com o antigo astro, já falecido, de Sete Homens e um Destino e Papillon). Após Hunger, que conta a história de um prisioneiro que lidera uma greve de fome, este novo diretor volta com um assunto ainda mais polêmico em Shame. Novamente contando com o mesmo ator, um dos principais do momento, o diretor faz um filme melhor e mais contundente.

O ator principal, Michael Fassbender, vem mesmo marcando muito bem sua presença no cenário do cinema atual. Só neste último ano, apareceu em três filmes de impacto. O blockbuster X-Men First Class, o último do diretor Cronenberg chamado Um Método Perigoso, que ainda passará nos cinemas brasileiros, e neste Shame que talvez tenha sido a interpretação que mais chamou a atenção dos críticos... Foi um dos indicados ao prêmio de ator principal no Globo de Ouro por esta atuação.

Na história deste filme, Brandon (Fassbender) é um homem que tenta conviver com seu vício sexual em uma grande metrópole, Nova York. Seu desafio na vida é administrar o vício com o dia a dia de seu trabalho, até que sua irmã aparece em seu apartamento para ficar por alguns dias. A partir daí, sua rotina muda e Brandon tem que adaptar sua vida a esta nova realidade provisória.

A compulsão sexual, tratada por muitos como algo pouco relevante e até como piada, aqui é inserido como um problema social grave. A primeira cena do filme, com Brandon parado em sua cama por alguns segundos sem se mover e sem piscar os olhos, tem a clara intenção de apresentar um personagem atormentado. A vida sociável bem conduzida e sua aparente independência, na verdade, escondem uma pessoa solitária e arrependida pelos hábitos que não consegue mudar.

Perturbador e reflexivo de forma equilibrada, Shame está recheado de cenas de sexo e nudez, mas não de forma erótica ou sensual. O vício de Brandon chega a ser desesperador em certos momentos. E além da preocupação de ambientar o espectador neste mundo obscuro do personagem, outra qualidade do filme é expor o problema sem a intenção de resolvê-lo, o que deixa a história mais verdadeira e compreensível.

“Action counts, not words”. Curiosamente é uma frase que faz parte dos diálogos de Brandon com sua irmã e transmite uma das mensagens do diretor... Um filme de poucas palavras e mais ação. O clima intenso se deve muito às cenas com tomadas longas e sem cortes. Só para ter uma ideia, é possível perceber a mistura de desejo e angústia do personagem principal através de diversos closes sem diálogos, apenas trocas de olhares.

Enfim, fica a dica para procurar este drama polêmico e convincente nos cinemas, pois está em exibição em diversas salas e vale a pena conferir o quanto antes. Recomendado.

http://www.imdb.com/title/tt1723811


sexta-feira, 16 de março de 2012

UM MISTERIOSO ASSASSINATO EM MANHATTAN - 1993

Mais um Wooody Allen classe A!


Uma oportunidade me fez rever este filme do diretor Woody Allen, que não é considerado um de seus maiores clássicos. Pouco lembrado, infelizmente, tem muitas qualidades que o faz uma realização bem acima da média, além de ser melhor que outros da própria filmografia do diretor. Na verdade, dificilmente um filme de Allen não é, pelo menos, uma realização agradável de se ver.

A história tem como par principal Larry (Woody Allen) e Carol (Diane Keaton), que formam um casal comum de meia idade. Em um determinado dia, conhecem seus vizinhos próximos, um casal mais velho. Surpreendentemente, no dia seguinte, a esposa deste vizinho sofre um ataque cardíaco e morre. A princípio normal, mas alguns acontecimentos fazem com que Carol desconfie que a morte não tenha sido natural. Com uma investigação em mãos e uma possível mudança de rotina, Carol se empolga, mas Larry não leva o caso a sério. Com a ajuda de um amigo, interpretado por Alan Alda, ela tenta desvendar esse mistério. Ao longo dessa investigação, problemas pessoais entre eles virão à tona.

Antes de mais nada, é bom sempre escrever sobre um dos pontos altos de Woddy Allen em suas realizações cinematográficas. Em tempos que acompanhamos novelas, reality shows e alguns filmes que exemplificam diálogos banais e improvisados pelos roteiristas às pressas, nesse filme não há falta de inspiração. Como sempre, os diálogos são inteligentíssimos, bem-humorados e parecem até mais improvisados do que realmente são. E o corpo das histórias do diretor, neste caso uma de mistério, nada mais é do que um belo pano de fundo para sua habilidade em criar momentos divertidos, críticas às relações humanas e um sarcasmo impossível de ser copiado.

Normalmente o elenco dirigido por Allen sempre atua, aparentemente, tão à vontade que parece mesmo uma improvisação do início ao fim. É também muito interessante e prazeroso revê-lo rivalizar seu personagem com Alan Alda, logo após Crimes e Pecados... Há uma química interessante entre os dois quando contracenam juntos, visto nestes dois filmes.

Enfim, é mais um ótimo filme do diretor, sem ser um dos mais consagrados de sua filmografia pelo público. Quem assistir certamente apreciará com um sorriso no rosto do início ao fim. Vale garimpar mais esta obra escondida do incansável Woody Allen.

http://www.imdb.com/title/tt0107507


quinta-feira, 1 de março de 2012

O ABRIGO - 2011

Esquecido pelo Oscar, mais um achado...


O ator Michael Shannon adora interpretar personagens perturbados. Ele é realmente muito bom, mas parece que seu tipo se encaixa perfeitamente no papel de pessoas problemáticas. Foi nomeado ao Oscar pelo seu papel como um homem estranho e violento em Foi Apenas Um Sonho, do diretor Sam Mendes, atuou em filmes perturbadores como Possuídos e Vício Frenético e, recentemente, bateu seu recorde em esquisitice interpretando um homem que está próximo de matar a própria mãe com uma espada, no penúltimo filme de Werner Herzog chamado My Son, My Son, What Have You Done. São papéis difíceis e ele sempre fez muito bem. E neste O Abrigo (nome original Take Shelter), a diferença é que ele fez o seu melhor, pelo menos em relação a estes filmes que acompanhei do ator. Uma atuação de gala complementada com a nova sensação do cinema, e indicada ao Oscar por Vidas Cruzadas, Jessica Chastain.

Michael Shannon interpreta Curtis, um operário comum que leva uma boa vida familiar, com sua esposa e filha, e também bons relacionamentos com amigos e colegas de trabalho. Sua vida tranquila muda quando começa a ter pesadelos e visões apocalípticas. Decide reformar e ampliar o abrigo de sua casa, que existe para eventuais catástrofes da natureza, para proteger sua família de um desastre de grandes proporções que poderá acontecer, de acordo com suas visões. Ao mesmo tempo, entende também que tem um histórico familar de esquizofrenia, por parte de mãe, que pode ser uma das explicações para suas alucinações.

Sem Michael Shannon, talvez o diretor, Jeff Nichols, não teria o mesmo resultado poderoso que teve com este filme. O ator tem a proeza de conseguir gerar no espectador sentimentos de compaixão e medo ao mesmo tempo. Há cenas brilhantes no filme... O surto em público de Curtis é memorável. E ainda tem a bela atuação da mais nova queridinha do cinema americano, Jessica Chastain, que faz a esposa de Curtis. Ela complementa a boa escolha de elenco que trabalha em sintonia.

Méritos também para o diretor que faz uma direção segura no filme, sem cair em clichês, e leva uma mistura de sensações para quem o assiste. O filme é provocativo, emocionante, dramático, apavorante e levará o público, provavelmente, a questionar e debater o desenvolvimento da história e o seu final.

Esquecido pelo Oscar, mas lembrado em diversos festivais (incluindo Cannes), infelizmente, na programação dos próximos meses nos cinemas brasileiros, sua exibição não está relacionada. É uma pena, até pela boa repercussão que recebeu fora de nosso país. Sua exibição na tela grande seria bem interessante. De qualquer forma, fica a dica e a recomendação para a busca pela internet, até sua distribuição nas locadoras que pode demorar...

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

O HOMEM ERRADO - 1956

Hitchcock muda de gênero e também acerta. 


Não está entre as realizações mais famosas ou assistidas de Hitchcock, mas este O Homem Errado é um grande filme e merecia um destaque maior. O fato de ser o único filme baseado em fatos reais do diretor, talvez possa explicar um pouco seu menor valor entre seus apreciadores. Hitchcock, neste filme, foge de seu gênero preferido, o suspense, e faz um drama, literalmente. Pode ser diferente de grande parte de sua filmografia, mas o resultado final está no alto nível de outros clássicos que já fez.

A década em que realizou este filme foi uma década inspirada para o diretor, repleta de filmes marcantes como Janela Indiscreta, Pacto Sinistro, Ladrão de Casaca, Um Corpo Que Cai, a refilmagem de O Homem Que Sabia Demais, Intriga Internacional, Disque M Para Matar e ainda outros mais... Enfim, certamente uma década de grandes sucessos que fizeram com que este O Homem Errado, passasse um pouco despercebido por não seguir a mesma linha dos filmes citados acima.

A história como escrevi antes, é verídica e mostra o músico Manny, interpretado por Henry Fonda, que leva uma vida normal trabalhando à noite para sustentar seus dois filhos e esposa. Com dificuldades financeiras, suas contas aumentam quando sua esposa necessita realizar uma cirurgia odontológica. Para ajudar a pagar este gasto, recorre ao seguro de vida dela para conseguir um empréstimo. Quando chega ao local, para obter este empréstimo, é acusado de ser um assaltante que vem praticando roubos no bairro. A partir daí, sua vida e a de seus familiares mudam.

Diferente das tramas comuns de suspense, em que o ator principal busca o verdadeiro culpado, quando acusado de algo que não cometeu, o foco deste filme se direciona à mudança de rotina de Manny e como isso afetará as pessoas à sua volta. O filme deve muito de seu bom resultado final à atuação de Henry Fonda, um astro na época, que faz um trabalho impecável. Impressiona a forma como ele se mantém em um estado de choque contínuo e praticamente não sorri durante todo o filme.

Com Hitchcock em grande fase, falar bem da direção neste filme é o tal chover no molhado. Mesmo sendo um drama, não faltam momentos tensos bem encaixados a sua trilha sonora característica, que ajuda a manter esta tensão. É a realização cinematográfica mais realista que já fez, não só por ser baseado em fatos reais, mas pelas características e atitudes dos personagens. Posso dizer isso pelo menos em relação aos vários filmes que já vi do diretor.

Não faz parte dos mais lembrados filmes do mestre do suspense, mas é um filme essencial para os fãs e uma boa pedida para quem gosta de cinema antigo. Recomendado!

http://www.imdb.com/title/tt0051207  

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A SEPARAÇÃO - 2011

Não tenha medo ou preconceito. Filmaço!


Às vezes tenho um pouco de medo quando um filme é ovacionado por todos os críticos de cinema. Fico com um pé atrás achando que o filme pode ser chato como outros que são valorizados exageradamente. Pois bem, dessa vez a unanimidade está certa. Esse filme iraniano vale a repercussão que está tendo.

Não foi à toa que este filme, aclamado nos festivais que passou, já recebeu o prêmio de melhor filme estrangeiro no Globo de Ouro e concorre no final deste mês ao Oscar nesta mesma categoria. E ainda mais, foi nomeado no mesmo Oscar para o prêmio de melhor roteiro original que, sem dúvida, é uma de suas virtudes.

Falando um pouco sobre a história, já na primeira cena, vemos o casal Nader e Simin discutindo o divórcio em frente a um juiz. A esposa Simin quer ir morar fora do país, para dar uma vida melhor à filha do casal, mas Nader não aceita, pois tem de cuidar de seu pai com Alzheimer. Simin sai de casa temporariamente e deixa o marido, a filha e seu sogro. Sem a esposa, Nader decide contratar uma cuidadora para ajudar seu pai. A separação do casal, na verdade, é o fato que dará início a uma série de complicações.

Independente dos problemas políticos do Irã e o relacionamento difícil de interesses sem fim com países vizinhos e os EUA, vale dizer que, acima de tudo, o filme trata sobre o ser humano comum, suas fraquezas, virtudes e suas decisões muitas vezes egoístas. E nas atitudes normais do homem, temos um dos principais diferenciais do filme, os personagens. Eles são muito bem escritos, verdadeiros, reais... Não existe o bem contra o mal. As atitudes de cada um, certas ou erradas, são aceitáveis. Todos, sem exceção, têm sua parcela de culpa e razão. E o curioso é que com o andamento da história, parece que a culpa ou razão de cada um pode se inverter.

O filme é essencialmente um drama, mas tem uma dinâmica tão impressionante que os acontecimentos vão quase se atropelando. Desde o início, você já se vê completamente envolvido com o desenrolar da história. O roteiro é muito bem amarrado, empolgante, sem clichês, sem falhas, pelo menos não achei nenhuma... Brilhante. Todo o elenco funciona bem com atuações convincentes. O destaque maior fica para a atuação do pai de Nader, o senhor com Alzheimer, que é fora do comum.

É uma realização inspirada e altamente recomendada, inclusive para aqueles que dificilmente dão chances para filmes de países com pouca ou nenhuma tradição no cinema. Ainda em circuito nos cinemas, tem potencial para agradar a maioria dos espectadores.

http://www.imdb.com/title/tt1832382/

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

SHERLOCK HOLMES - GAME OF SHADOWS - 2011

A sequência supera o original de várias formas.


Quando saí do cinema, ao ver o primeiro Sherlock Holmes dirigido pelo Guy Ritchie, diretor que marcou merecidamente o cinema de ação com Snatch - Porcos e Diamantes e Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes, pensava ter visto um bom filme deste gênero e me dei por satisfeito. Deixei um pouco de lado o fato de que este detetive fez fama por resolver seus casos quase sempre com sua percepção aguçada, ao invés do uso de força. Assim acompanhamos nos livros de Sir Arthur Conan Doyle.

Vamos combinar que nesta sequência, as cenas de ação, impecáveis por sinal, não faltam e voltam a dar o ritmo alucinante do primeiro, graças ao mesmo diretor. E mesmo que Holmes use muito de seu intelecto distinto, em boa parte do filme, acaba resolvendo a outra parte exageradamente na porrada mesmo. Isso chega a frustrar um pouco quem realmente aprecia o personagem. Então, se considero o Holmes dos livros bem mais interessante, porque estou recomendando este filme? OK, vamos lá... Em primeiro lugar, a história nesta sequência é bem melhor elaborada do que a primeira e as ligações com os personagens do autor são mais significativas. Em segundo lugar, temos a presença poderosa de um verdadeiro vilão, Profº Moriarty, que rouba as cenas em que aparece. Somente a presença dele, o único personagem capaz de rivalizar intelectualmente com Holmes, já gera uma enorme tensão em cada encontro entre eles. Muitos dos diálogos são memoráveis.

Sobre a história do filme, vale uma passada breve apenas para situar quem for assisti-lo. O famoso detetive Sherlock Holmes, junto ao seu parceiro Dr Watson que está prestes a se casar, descobre um plano engenhoso, elaborado pelo Profº Moriarty, que tem como base iniciar nada menos do que uma guerra mundial.

Desde garoto gostava de histórias de mistério e li a maioria dos contos de Sherlock Holmes. Escrevo contos porque o autor, Conan Doyle, não escrevia longas histórias com o detetive, apenas em algumas exceções. Acompanhei mais pra frente, nos anos 90, a série inglesa que adaptou quase todas suas histórias e, recentemente, venho acompanhando também uma nova série da BBC chamada Sherlock, que recomendo, pois é de altíssima qualidade. Nessa nova série, o detetive e o Dr Watson vivem na Londres atual, com celular, internet, blogs, twitter, facebook... Isso já não gera uma certa curiosidade para assistir?

Com relação aos dois filmes do Guy Ritchie, o primeiro e este, um dos pontos mais interessantes de Holmes, que é sua habilidade em decifrar pessoas em segundos, é deixada de lado. O famoso personagem usa mais sua sabedoria para descobrir saídas ou antecipar movimentos de um oponente, confesso que essa parte é bem interessante e inédita nos livros, mas, ainda assim, a parte intelectual deveria ser mais explorada em geral. Apesar disso, o filme tem muitas qualidades. A história é muito bem construída e, quem leu o conto chamado "O Problema Final", notará algumas semelhanças, principalmente no final. Aliás, o desfecho é um dos pontos altos do filme, até porque deixa de lado um pouco a ação e dá preferência ao jogo mental entre os dois oponentes.

Não dá para negar a qualidade das cenas de ação em câmera lenta, marca do diretor, que são visualmente espetaculares e a ambientação européia do final do século 19. Vale também mencionar por fim o ator que interpreta Moriarty, Jared Harris, Sua atuação é espetacular e rouba mesmo todas as cenas que duela com Holmes, em minha opinião. Infelizmente, não foi tão comentada como deveria.

Bom, só para concluir, talvez valha mais encarar o personagem do filme com outros olhos em relação ao dos livros. Desta forma, você verá um entretenimento de primeira. Ainda está sendo exibido em grande circuito e tem potencial para agradar os mais e os menos exigentes!



quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

O HOMEM DO LADO - 2009

Alto nível do cinema argentino.


Esse filme serve para comprovar mais uma vez que o cinema argentino está realmente bem à frente do brasileiro. Depois dos filmes recentes com Ricardo Darín, O Segredo dos Seus Olhos e Um Conto Chinês, além de outras produções argentinas bem interessantes nos últimos anos, O Homem do Lado é mais uma realização que indico sem pensar duas vezes. Não à toa, foi um dos principais premiados no Festival de filmes independentes de Sundance em 2010.

A história mostra uma relação conturbada de vizinhos. O protagonista é Leonardo, um designer industrial que mora com esposa, filha e empregada na única casa criada pelo renomado arquiteto Le Corbusier, em La Plata na Argentina. Leva uma vida com relativo sucesso profissional, mas seus relacionamentos familiares não andam muito bem, principalmente, com sua filha. A coisa desanda quando seu vizinho, Victor, resolve fazer uma janela de frente e bem próxima  à casa de Leonardo, tendo início a briga entre vizinhos.

A ótima cena inicial, filmada em split screen (tela dividida), já mostra que a experiência será boa. Introduz de forma simples e original a história que virá a seguir. O filme tem roteiro bem estruturado e inteligente, personagens bem construídos  e bem detalhados. Leonardo é aquele típico profissional que pensa ser mais bem sucedido do que realmente é, do tipo sofisticado e artístico demais, mal-humorado, preconceituoso e metido. Em contrapartida, Victor é bem-humorado, brega e bruto. Essa oposição entre eles cria situações engraçadíssimas, mesmo que o filme seja essencialmente um drama.

Algumas cenas, como as discussões de Leonardo com sua esposa (cena da foto abaixo especificamente), a doação de uma "obra de arte" de Victor para que se reconciliem e  o momento em que Leonardo ouve em casa uma música experimental com um amigo, enquanto confunde com as marteladas da obra, são apenas exemplos realmente marcantes. E se não bastasse as diversas qualidades que percebemos durante o filme, ainda tem um desfecho memorável.

Como disse antes, é mais uma ótima realização do cinema argentino, em ótima fase faz tempo. Recomendadíssimo.

http://www.imdb.com/title/tt1529252

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

O ESPIÃO QUE SABIA DEMAIS - 2011

Diretor promissor, grande elenco, boa trama... Não tem erro.


Confesso que estava com certa expectativa antes de entrar na pré-estréia desse filme. Não tinha como ser de outra forma. Em primeiro lugar, é dirigido pelo sueco Tomas Alfredson, que virou, merecidamente, uma espécie de sensação do cinema europeu atual depois de realizar Deixe Ela Entrar, uma pequena obra-prima que mistura drama e terror em grande estilo. Além da curiosidade por este novo trabalho do diretor, o filme tem o melhor elenco inglês atual reunido dos últimos tempos. A notícia boa é que a expectativa foi superada e o filme merece mesmo a repercussão que está conseguindo.

É bom alertar antes, que o nome O Espião Que Sabia Demais serve para enganar o público, como normalmente acontece. O nome original do filme é Tinker Taylor Soldier Spy, bem apropriado ao conteúdo da história. Pior ainda é a propaganda dele na televisão, que mais parece um trailer do novo Missão Impossível. Na verdade, é a velha estratégia de comunicação manjada para atrair mais a atenção do público e, consequentemente, trazer maior rentabilidade. Só espero que, quem for ao cinema esperando um suspense com ação, não fique insatisfeito... A proposta é outra.

A história acontece no auge da Guerra Fria e mostra os bastidores do Serviço Secreto de Inteligência Britânico. Gary Oldman, o protagonista George Smiley, é o encarregado de descobrir a identidade de um possível traidor que está fornecendo informações sigilosas para algum agente secreto russo. Os suspeitos fazem parte do alto escalão dos agentes ingleses, chamado também de The Circus, do qual inclusive Smiley fazia parte até se aposentar recentemente contra sua vontade.

O filme é baseado no romance de John Le Carré, que inclusive participa do filme como produtor executivo, e faz parte de uma trilogia escrita por ele sobre o serviço secreto inglês. Inclusive o livro em que se baseia este filme, já teve uma adaptação anterior que virou uma minissérie no final dos anos 70. Le Carré também teve outros romances adaptados com sucesso para o cinema como O Jardineiro Fiel, dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles, e O Alfaiate do Panamá com Geoffrey Rush e Pierce Brosnan.

A nata do cinema inglês atual está presente neste filme. Colin Firth (O Discurso do Rei), Tom Hardy (A Origem), Mark Strong (Sherlock Holmes, Lanterna Verde), Benedict Cumberbatch (da excelente série Sherlock da BBC) são alguns exemplos, além de medalhões como o já citado Gary Oldman e também John Hurt. Se não bastasse o elenco de peso, que facilmente seguraria uma produção mediana, a direção também está na mesma altura. Alfredson nos apresenta os segredos, as mentiras e a difícil relação interna de um Serviço Secreto de uma forma elegante e calma que não se vê em filmes deste tipo. Há um clima de desconfiança geral do início ao fim. E com a trama se revelando lentamente, o diretor prioriza  diálogos inteligentes, ao invés de cenas de ação. É como imagino um departamento de espionagem real mesmo! A história inteligente e complexa pode até fazer você perder a linha de raciocínio e confundi-lo em partes, mas o lado bom é que não deixará você desgrudar os olhos da tela. A ambientação anos 60/70 é primorosa, a trilha sonora encaixa perfeitamente, os diálogos são marcantes  e a trama envolvente... São algumas das qualidades que, somadas a um elenco como esse, faz o filme ser especial.

Não foi lembrado para as premiações do Globo de Ouro, mas ainda é esperado indicações em algumas categorias do Oscar. Irá estrear nos cinemas neste final de semana, dia 20 de janeiro, e é altamente recomendado.

http://www.imdb.com/title/tt1340800


quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

UMA PASSAGEM PARA A VIDA - 2002

Um achado do cinema frânces atual.


Após assistir este filme na última semana, cujo nome original é L'Homme du Train, descobri que uma refilmagem americana dele acaba de sair com o nome Man On The Train. Antes de assistir o remake, na verdade não pretendo assistir, recomendo evitar por várias razões, principalmente, pelo estilo europeu do filme. Não acredito que a refilmagem consiga seguir a mesma linha do original porque, definitivamente, a diferença de estilo de cinema é grande. Já é difícil encarar um bom remake e, nesse caso, prefiro não arriscar. Posso me enganar também...

Na história, um homem misterioso e quieto desembarca de trem em uma pequena cidade. Aparentemente, sem lugar para ficar, encontra por acaso um simpático professor aposentado, solitário e interessado pela possível nova amizade. Completamente opostos, iniciam um relacionamento quase improvável quando o professor oferece sua casa para hospedar o homem misterioso até o próximo sábado. Curiosamente, ambos têm um compromisso neste mesmo dia na cidade.

O professor, que desde o início mostra sua vida regrada e metódica, vai aos poucos demonstrando sua frustração por não ter vivido de outra forma, e o outro homem, seu oposto, vive sem planejar o futuro, mas se apega ao modo simples de vida do professor. O filme caminha desta forma, com os dois cada vez mais interessados em conhecer o estilo de vida diferente de cada um.

O roteiro não traz grandes reviravoltas ou grandes conflitos, até o clímax, porque a ideia é aos poucos mostrar a atração dos dois personagens pela vida oposta que cada um leva... O desenrolar da história pode requerer uma certa paciência inicial, mas quem a tiver, aproveitará uma realização cinematográfica de altíssimo nível que proporciona, além de uma ambientação interiorana primorosa e ótimos diálogos,  que mostram a riqueza de detalhes dos personagens, um desfecho que certamente ficará em sua memória por um bom tempo.

É melhor parar por aqui para que o envolvimento que tive assistindo-o você também possa aproveitar, mas queria apenas complementar mencionando duas cenas, de cada um dos personagens, que estão também frescas na memória e explicam bem a ideia do filme... O professor brincando de pistoleiro em frente a um espelho e o homem misterioso comprando pães na padaria. Simples, porém sintetizam o conceito do filme.

Um filme de bom gosto, refinado, silencioso e tenso em partes, que cativa e emociona, além de outras qualidades mais. Enfim, me deixou extremamente feliz por tê-lo assistido.