Na maior parte, vou tentar comentar e indicar filmes que estejam um pouco fora do circuito comum, pra trazer algumas novas e diferentes opções. E como gosto de filmes antigos também, alguns vão aparecer.
Lógico que nem sempre as opiniões valerão para todos... cada um realmente tem gosto e interesse diferentes!
Vossos comentários e opiniões serão bem vindos!

Um forte abraço e um aperto de mão leve...

quarta-feira, 19 de junho de 2013

SOUND OF MY VOICE - 2011

Mais um exemplo de cinema low budget com boas ideias


Após escrever e ser a atriz principal do inteligente A Outra Terra (Another Earth), que inclusive já foi escrito e comentado aqui neste blog, a atriz e roteirista Brit Marling traz para o cinema mais uma boa ideia em Sound of My Voice, seguindo mais ou menos a mesma linha deste filme anterior.

Ela, na verdade, já vem aparecendo em produções mais do mainstream (recentemente no A Negociação com Richard Gere e o Sem Proteção do Robert Redford), mas está deixando espaço para filmes mais inventivos, como é o caso deste aqui em questão. Vamos ver se continuará assim e que não seja apenas mais um rostinho bonito no cinema. Boas ideias ela tem.

A Outra Terra e Sound of My Voice, além de serem independentes e de baixo orçamento, também tem em comum a mistura de história sci-fi com apelos mais dramáticos. O low budget desta nova produção é mais uma vez compensado com a intensidade da narrativa, que não atinge o mesmo nível de A Outra Terra, mas consegue ser mais um trabalho competente e agradável que vale a pena ser recomendado.

Neste seu filme anterior que citei, a personagem de Brit Marling lida com problemas de relacionamento após uma tragédia, ao mesmo tempo em que um novo planeta, semelhante à Terra, é descoberto e se encaminha em nossa direção. Este novo planeta funciona como uma realidade paralela. Em Sound of My Voice a história é diferente, mas se assemelha na mistura que descrevi acima.  Ela interpreta uma líder de um culto secreto que é investigado por um casal de jornalistas. Eles estão interessados em desmascarar seus fundamentos e realizar um documentário sobre o tema. A diferença desta líder do culto para os outros é que ela diz ter vindo do futuro.

 
Em primeiro lugar, um filme baseado em uma inverstigação sobre cultos ou seitas já gera uma certa curiosidade, pelo menos para mim. Para citar alguns exemplos bem interessantes do cinema sobre o tema, vale ver ou rever O Homem de Palha de 1973, já escrito nesse blog, e De Olhos Bem Fechados do Kubrick. Os cultos já são enigmáticos por si só, principalmente pela enormidade de teorias e crenças diferentes que existem por aí e pelo poder, às vezes fascinante, que exercem sobre seus seguidores.

No caso da história, ela não traz grandes reviravoltas, mas intensidade não falta. Desde a cena inicial, quando o casal de jornalistas deve passar por uma espécie de ritual para entrar no grupo, até o seu final, a intensidade se mantém e a dúvida principal fica no ar e pode ter resposta ou não, dependendo da sua interpretação. A narrativa é bem estruturada, inteligente, tensa, mas sem exageros ou sustos, e prende a atenção. O problema é que você ficará com aquela sensação de quero mais...


Enfim, este filme participou do Festival de Sundance nos EUA no ano passado, o principal evento do cinema independente, e gerou certa repercussão por lá. Foi exibido recentemente, infelizmente sem repercussão nenhuma, no Centro Cultural de São Paulo, porém a chance de estrear nos cinemas brasileiros em circuito maior é muito pequena. Provavelmente entrará direto no DVD. Recomendado.

http://www.imdb.com/title/tt1748207

quinta-feira, 25 de abril de 2013

NO - 2012

Estilo retrô decente é uma entre as boas qualidades de No
 

Não se preocupe se o seu interesse por cinema político é baixo. O diretor chileno Pablo Larrain trata de política, mas não só isso. Até vale dizer que a crítica política parece fazer parte de todos seus outros filmes também. A começar pelo que já vi dele, o melancólico Tony Manero, que tem pano de fundo político também, talvez até mais evidente do que em No. A premissa parece até divertida (esse filme conta sobre uma pessoa obsessiva pelo personagem Tony Manero, interpretado por John Travolta em Os Embalos de Sábado à Noite, e parece viver para se tornar uma imitação fiel do ídolo) mas o filme é triste.

No é seu último filme e com ele o diretor recebeu sua primeira e merecida indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro neste ano e foi definitivamente notado por crítica e público. Não tem uma carreira longa e já parece ser bem promissor.

A história, baseada em fatos reais, conta os bastidores de um plebiscito, no final dos anos 80, com o objetivo de definir se o então ditador Augusto Pinochet continuaria mais 8 anos no poder ou se a eleição se tornaria democrática. Então, foram estabelecidas duas frentes de oposição: quem era a favor do SIM à continuidade do presidente militar no poder e quem era a favor do voto democrático, no caso o NÃO. Aí entra em cena o personagem de Gael Garcia Bernal, um publicitário de sucesso, dono de uma agência de publicidade, que será o cabeça no desenvolvimento e criação da campanha do NÃO. Em contrapartida, seu sócio estará ligado diretamente à campanha do SIM.

 
O filme conta um momento histórico do Chile, que o diretor transmite, até certo ponto, de forma leve, mas com conteúdo. A retaguarda política da história é mascarada por uma guerra de marketing. Essa mistura, que mostra a campanha como ferramenta importante e fundamental neste plebiscito, deixa a trama potencialmente agradável à todos, mesmo que política não seja o seu forte. Pode acreditar.

Existem muitas curiosidades na história e criativas escolhas feitas pelo diretor. Uma ótima é a ideia de trazer todo o clima anos 80 para a história. Isso se vê com as próprias propagandas originais da época e o estilo meio documental com imagens distorcidas, sombras e cores falhas. A intenção de passar ao público a sensação de estar vendo uma fita de VHS foi um acerto em cheio.

Já com relação a história, tendo em vista o papel da campanha no resultado, vale analisar e discutir como se desenrola seu caminho até o final. É muito interessante acompanhar a mudança de uma pré-campanha racional/tradicional para uma linguagem publicitária com lado emocional, a manipulação política já manjada, a resposta do público às mensagens e também a rivalidade entre os dois lados. Pra quem é desse ramo, melhor ainda.


Outro ponto que pode ser destacado também é a relação entre os personagens rivais. Gael Garcia e seu sócio, a dupla principal, se duelam na campanha e geram diálogos ótimos. Suas diferenças se multiplicam e ficam quase insustentáveis, ao mesmo tempo em que precisam continuar trabalhando juntos. Parte marcante da história.

Enfim, há pontos altos expressivos no geral e muitos a serem valorizados, mas vale você descobrí-los ao longo da história. Altamente recomendável, passou no cinema recentemente e já já deve ser lançado em DVD/Blu-Ray. Recomendado.

segunda-feira, 25 de março de 2013

A CAÇA - 2012

Precursor do Dogma 95, diretor acerta em cheio novamente.
 
 
Conferi a estréia nesse último final de semana desse filmaço no Espaço Unibanco. Infelizmente só está passando neste cinema aqui em São Paulo, o que é estranho porque, por mais que seja um filme dinamarquês, é um filme razoavelmente badalado. Tanto é que fez seu sucesso na Mostra de São Paulo no final do ano passado e ganhou diversos prêmios pelo mundo, sendo lembrado também em Cannes. Ou seja, tem muito mais público que muito coisa que tem por aí.
 
Apesar de ter feito o ótimo Querida Wendy e o bom Submarino, já postado há um bom tempo aqui no Blog, é sempre bom lembrar que o diretor Thomas Vinterberg é um dos precursores do Dogma 95 junto à Lars Von Trier. Seu principal filme, Festa de Família, marcou esse movimento e marcou sua carreira também. E apesar de ter feito bons filmes depois, alguns que acabei de citar, ainda se esperava algo tão marcante quanto este seu primeiro. Pois é, parece que agora foi.
 
A história de conflitos e polêmicas deste A Caça é, sem dúvida, tão impactante quanto em Festa de Família e é onde o diretor parece mostrar seu maior valor. E se não bastasse a direção segura, temos a presença de Mads Mikkelsen como ator principal em um papel digno de Oscar. Impressiona o quão expressivo ele é.
 
Ele interpreta uma espécie de assistente geral de uma escola de crianças em uma comunidade fechada. Pai separado e com diversos amigos, luta para ter seu filho mais perto, além de iniciar também um promissor romance com uma estrangeira que trabalha na mesma escola. Porém, sua vida terá uma mudança radical quando a filha de seu melhor amigo, em um momento do tipo birra de criança, lança uma mentira inocente daquelas que nem seu maior inimigo mereceria receber. E aí começa...
 
 
Ao melhor estilo Dogma, o diretor usa câmera de mão em boa parte do filme e segue um roteiro de forma linear que vai avançando no tempo, o que deixa a história bem fácil de ser acompanhada e o foco fica quase exclusivo para os conflitos da trama. Aliás o roteiro é o que há de melhor. Não há vilões e as atitudes condizem com os fatos criados. Diálogos bem escritos, sem dúvida, e em nenhum momento as reações dos personagens parecem exageradas ou inverossímeis. Há um visível cuidado do diretor sobre nisso, como fez em seus outros filmes.
 
E entre diversas qualidades que poderão ser percebidas durante o filme, existe somente uma ressalva quanto ao desfecho que não chega a decepcionar, mas deixa uma sensação de que poderia ser muito mais do que foi, até porque o próprio diretor sempre caprichou nessa parte em seus filmes anteriores. Festa de Família e Querida Wendy estão aí pra não me deixar mentir.
 
Independente disso, o filme é de um nível muito acima da média e quase mereceu um dez pelo conjunto da obra porque é realmente de tirar o fôlego. Está nos cinemas e em circuito restrito, infelizmente, mas vale o esforço de correr atrás enquanto ainda há tempo de vê-lo na tela grande que é sempre melhor. Recomendadíssimo.

http://www.imdb.com/title/tt2106476/?ref_=sr_1

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

O GRANDE GOLPE - 1956

Kubrick já era bom bom desde o começo...


O diretor consagrado Stanley Kubrick é sem dúvida um dos grandes da história do cinema e um dos preferidos de muita gente. Acho que não há o que discutir sobre isso. Certamente um de seus filmes está entre os que você mais aprecia, mas você pode nem perceber. Laranja Mecânica, 2001, O Iluminado, Nascido para Matar, Dr Fantástico... Pelo menos um destes deve estar na sua lista Top Ten. Porém, existem seus filmes menos badalados que merecem uma busca também.

Ofuscado por estes seus trabalhos posteriores mais famosos, que atingiram grande sucesso comercial e de crítica, O Grande Golpe faz parte de seu início de carreira e é menos valorizado, mas já mostra que Kubrick era um diretor promissor. Seu alto nível apareceu cedo.

Kubrick, que escreveu também o roteiro, fez com este filme uma história inteligente, bem montada e coerente. É claro que visto hoje, O Grande Golpe pode perder um pouco seu charme por ser uma fórmula bem batida - filmes sobre roubos e assaltos em grupo - e com uma enormidade de exemplos recentes no cinema como Onze Homens e um Segredo, O Assalto, filmes do mesmo tipo com Pierce Brosnan e por aí vai. Ainda assim, vendo hoje pela primeira vez, é um dos mais satisfatórios filmes deste estilo.

Resumindo a história em poucas palavras, um ex-presidário junta um grupo de homens para armar um roubo em um hipódromo. É um esquema elaborado onde cada um terá um trabalho específico. Ao mesmo tempo em que a trama se desenrola, acompanhamos também as particularidades de cada um dos personagens e a execução deste trabalho.

Diferentemente de seus trabalhos seguintes, onde se aprofundou em ideias bem mais complexas, neste filme a trama é simples de acompanhar. Mesmo que a narrativa não seja linear, o tempo vai e volta, não confunde e fica ainda mais interessante do jeito que é.


Talvez a parte mais curiosa do filme seja o narrador. Fiquei incomodado no início, mas o seu propósito é fundamental para a história. Ele é tão obsessivo com o tempo quanto os personagens e esta impressão inicial, talvez incômoda, passa a agradar e se torna parte importante na trama. É uma aula de como fazer bom uso de um narrador em um filme.

Enfim, assisti esse filme na Mostra Tarantino do MIS (filmes que influenciaram o diretor) há algumas semanas atrás e a influência mais óbvia percebida é Cães de Aluguel, mas é possível ver outras contribuições de Kubrick para Tarantino neste filme. Na verdade, independente disso, o que vale é conferir este filme por ser bom mesmo. É, no mínimo, um ótimo entretenimento de um diretor que marcou demais o cinema com importantes obras-primas. E isso é para poucos.

http://www.imdb.com/title/tt0049406/?ref_=sr_4

domingo, 20 de janeiro de 2013

DJANGO LIVRE - 2012

Faroeste a lá Itália por Tarantino não poderia dar errado, é claro.


É curioso tentar entender o quanto o povo, em geral, aprecia tanto os filmes do Tarantino. Ele passa longe dos limites, isso em comparação aos diretores do mainstream de Hollywood, principalmente nos quesitos violência exagerada e extravagância e, mesmo assim, é venerado por muitos. Como será que um cineasta fora do eixo comum consegue cair tão bem nas graças do público?

Difícil responder, mas isso talvez nem seja tão importante no momento. O que realmente importa é que Django Livre é mais um de seus filmes imperdíveis! Tem o que Tarantino gosta e um pouco mais. Não há um minuto a menos que deveria ser poupado dos 165 minutos de sua duração. O tempo vale a pena e se tivesse mais seria ainda melhor. Então, antes de qualquer coisa, vamos a história descrita de forma simples e sem rodeios.

Estados Unidos, meados do século 19. A época é de escravidão total e os negros vivem praticamente apenas como escravos. Django (Jamie Foxx) é mais um deles, mas é solto logo no início por um caçador de recompensas (Christoph Waltz) que o ajudará a identificar sua próxima caça. Começam a se dar bem e o alemão o treina para ajudá-lo em seus próximos "trabalhos". Com isso, Django ganha experiência e vai atrás de um objetivo maior, resgatar sua mulher que é também vítima da escravidão.

Grande apreciador dos filmes B dos anos 60 e 70, Tarantino faz questão de não esconder suas influências, pelo contrário, aproveita para muitas vezes melhorá-las. Desta vez, homenageia explicitamente o - já criticado, mas hoje cultuado por muitos - spaghetti-western italiano.

Sergio Leone, que é o principal diretor desse estilo e um dos ícones deste período, é mais lembrado pelos inesquecíveis clássicos Três Homens em Conflito e Era Uma Vez no Oeste. Este último tive a maravilhosa oportunidade de assistir na tela grande no final do ano passado e, certamente, Leone teria ficado orgulhoso se estivesse vivo para ver este mais recente Tarantino.


A trilha sonora, por exemplo, faz grandes referências a estes filmes, mesmo que o diretor misture com músicas mais atuais, o que deixa o filme ainda mais interessante. Aliás, poucos encaixam a música nas cenas tão perfeitamente quanto Tarantino. Tem inclusive composições do Ennio Morricone, visto já logo no início do filme, que é uma figura carimbada dos westerns italianos, principalmente pela parceria que tinha com Sergio Leone. E ainda pra completar, Franco Nero faz uma ponta no filme. Ele é o ator que faz o personagem Django no antigo filme italiano de mesmo nome. Ainda não vi, mas é importante mencionar que Django Livre, mesmo com este nome, não é uma refilmagem.

Na verdade, além da óbvia lembrança dos faroestes italianos, as referências a outros filmes e estilos aqui não faltam. E é até difícil captar todas.  Isso deve ser algo que faz Tarantino se divertir ao acompanhar os fóruns de discussão sobre seus filmes.

O elenco está obviamente excelente, mas não se esperava menos do que isso. O alemão Christoph Waltz, que está concorrendo ao Oscar desse ano, é o mais comentado e tem ótima atuação sem dúvida, mas achei parecido demais com o estilo de seu outro personagem em Bastardos Inglórios, quando inclusive ganhou o Oscar pelo papel. A diferença em Django Livre é que ele não é o vilão, mas as caras e bocas são semelhantes. Samuel Jackson e James Foxx fazem bem seus papéis também, mas talvez a melhor atuação seja mesmo a do vilão, interpretado pelo Leonardo DiCaprio. Impressionou novamente e mostrou que continua entre os melhores, mesmo não tendo sido lembrado para o Oscar nesse ano.


A diferença mesmo é o diretor. Seu jeito próprio e inconfundível de mostrar violência explícita e exagerada de forma artística, os diálogos sarcásticos que se tornam memoráveis ("O que você está achando desse negócio de ser caçador de recompensas, Django?" "Matar brancos e ainda ser pago por isso, como não gostar?"), as referências divertidas aos filmes B, sua criatividade que ainda surpreende, são algumas das virtudes que fazem ser quem ele é hoje. E ainda por cima, o filme por si só, independente das questões técnicas, já é um excelente entretenimento.

Estreou neste final de semana, Django Livre é obrigatório ver nos cinemas. Curioso também é que, mesmo com um estilo bem diferente dos filmes premiados normalmente pelo Oscar, recebeu merecidas indicações de Melhor Roteiro e Filme para este ano. Independente disso, vai com fé que é diversão garantida.

http://www.imdb.com/title/tt1853728/