Diretores de O Homem do Lado acertam novamente.
Após a realização do ótimo O Homem do Lado, os diretores argentinos Mariano Cohn e Gastón Duprat retornam em mais um drama/comédia de alto nível. Reafirmam mais uma vez a excelente fase do cinema de nossos vizinhos. Como acontece no filme anterior, a dupla desenvolve uma boa história repleta de humor negro e crítica à vida cotidiana. Sem dúvida aprenderam bastante com os irmãos Coen... com marca e estilo próprios, é claro.
Mesmo que a história tenha uma premissa de um filme de ficção, é na verdade um pano de fundo para o pessimismo e a mediocridade do ser humano. Isto se mistura com um humor afiado e inteligente que está se tornando uma marca registrada dos diretores. Talvez neste filme seja até mais evidente, que o anterior, a intenção de criar cenas divertidas em momentos de desgraça.
O filme é baseado em um conto do escritor argentino Alberto Laiseca que, inclusive, faz parte do elenco sendo o próprio narrador da história. Já no início ele narra como um homem comum se transforma em um imortal. Este homem, ao invés de aproveitar seu dom, decide viver no anonimato. Com poderes também de comandar tudo em sua volta, decide ajudar um senhor que conhece em um bar, chamado Ernesto, cuja vida parece ser monótona e sem grandes ambições. Faz uma proposta e lhe dá uma chance de voltar no tempo, há 10 anos atrás, com a cabeça experiente de seus 60 e poucos anos que tem hoje.
Com esta história de ficção, os diretores expõem a ideia de que mesmo com infinitas possibilidades, o ser humano faz escolhas medíocres. Eles expõem atitudes fundamentalmente egoístas do homem e trazem uma reflexão sobre a condição humana. Pode ser depressiva a forma como são passadas algumas mensagens neste filme, mas em diversos pontos diverte muito. É um contraponto bem interessante, sem dúvida.
Com inúmeras qualidades, vale mencionar os personagens interessantes criados pelo autor e, talvez o maior acerto do filme, ter o próprio autor como o contador da história. Ele é como um narrador à moda antiga. Daqueles que narram um conto com a plena consciência da história sem esconder os sentimentos pelos personagens.
Mesmo assim, no geral, não sei se é um tipo de filme que agradará a maioria. Tem um desenvolvimento lento, mas, ainda assim, recomendo pela boa ideia e pela execução bem acima da média. Passou no Festival do Rio no final do ano passado, mas ainda está sem previsão de lançamento e distribuição aqui no Brasil, pelo menos não encontrei notícia à respeito. Portanto, quem tiver interesse, somente encontrará este filme na internet. Boa pedida.
Uma coisa que tem de sobra no cinema vizinho e que eu sinto que ainda não foi muito percebida aqui é que, antes de tudo, são necessárias boas histórias. No geral, vemos que os diretores, os atores, a execução técnica dos filmes, é tão boa aqui quanto lá. Mas por lá, muitos filmes, mesmo os mais simples, feitos provavelmente com orçamentos modestos, sempre nos surpreendem com roteiros muito interessantes e bem escritos.
ResponderExcluirPois é, concordo com você José Arnaldo. Uma coisa é discutir orçamento, quando comparamos orçamentos bem diferentes como o brasileiro e o americano, por exemplo. Outra coisa é a criatividade e a competência de construir um roteiro bem feito, que os argentinos vem ganhando de longe quando comparamos ao nosso cinema atual. Uma pena. Abs
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