Na maior parte, vou tentar comentar e indicar filmes que estejam um pouco fora do circuito comum, pra trazer algumas novas e diferentes opções. E como gosto de filmes antigos também, alguns vão aparecer.
Lógico que nem sempre as opiniões valerão para todos... cada um realmente tem gosto e interesse diferentes!
Vossos comentários e opiniões serão bem vindos!

Um forte abraço e um aperto de mão leve...

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

O HOMEM DO LADO - 2009

Alto nível do cinema argentino.


Esse filme serve para comprovar mais uma vez que o cinema argentino está realmente bem à frente do brasileiro. Depois dos filmes recentes com Ricardo Darín, O Segredo dos Seus Olhos e Um Conto Chinês, além de outras produções argentinas bem interessantes nos últimos anos, O Homem do Lado é mais uma realização que indico sem pensar duas vezes. Não à toa, foi um dos principais premiados no Festival de filmes independentes de Sundance em 2010.

A história mostra uma relação conturbada de vizinhos. O protagonista é Leonardo, um designer industrial que mora com esposa, filha e empregada na única casa criada pelo renomado arquiteto Le Corbusier, em La Plata na Argentina. Leva uma vida com relativo sucesso profissional, mas seus relacionamentos familiares não andam muito bem, principalmente, com sua filha. A coisa desanda quando seu vizinho, Victor, resolve fazer uma janela de frente e bem próxima  à casa de Leonardo, tendo início a briga entre vizinhos.

A ótima cena inicial, filmada em split screen (tela dividida), já mostra que a experiência será boa. Introduz de forma simples e original a história que virá a seguir. O filme tem roteiro bem estruturado e inteligente, personagens bem construídos  e bem detalhados. Leonardo é aquele típico profissional que pensa ser mais bem sucedido do que realmente é, do tipo sofisticado e artístico demais, mal-humorado, preconceituoso e metido. Em contrapartida, Victor é bem-humorado, brega e bruto. Essa oposição entre eles cria situações engraçadíssimas, mesmo que o filme seja essencialmente um drama.

Algumas cenas, como as discussões de Leonardo com sua esposa (cena da foto abaixo especificamente), a doação de uma "obra de arte" de Victor para que se reconciliem e  o momento em que Leonardo ouve em casa uma música experimental com um amigo, enquanto confunde com as marteladas da obra, são apenas exemplos realmente marcantes. E se não bastasse as diversas qualidades que percebemos durante o filme, ainda tem um desfecho memorável.

Como disse antes, é mais uma ótima realização do cinema argentino, em ótima fase faz tempo. Recomendadíssimo.

http://www.imdb.com/title/tt1529252

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

O ESPIÃO QUE SABIA DEMAIS - 2011

Diretor promissor, grande elenco, boa trama... Não tem erro.


Confesso que estava com certa expectativa antes de entrar na pré-estréia desse filme. Não tinha como ser de outra forma. Em primeiro lugar, é dirigido pelo sueco Tomas Alfredson, que virou, merecidamente, uma espécie de sensação do cinema europeu atual depois de realizar Deixe Ela Entrar, uma pequena obra-prima que mistura drama e terror em grande estilo. Além da curiosidade por este novo trabalho do diretor, o filme tem o melhor elenco inglês atual reunido dos últimos tempos. A notícia boa é que a expectativa foi superada e o filme merece mesmo a repercussão que está conseguindo.

É bom alertar antes, que o nome O Espião Que Sabia Demais serve para enganar o público, como normalmente acontece. O nome original do filme é Tinker Taylor Soldier Spy, bem apropriado ao conteúdo da história. Pior ainda é a propaganda dele na televisão, que mais parece um trailer do novo Missão Impossível. Na verdade, é a velha estratégia de comunicação manjada para atrair mais a atenção do público e, consequentemente, trazer maior rentabilidade. Só espero que, quem for ao cinema esperando um suspense com ação, não fique insatisfeito... A proposta é outra.

A história acontece no auge da Guerra Fria e mostra os bastidores do Serviço Secreto de Inteligência Britânico. Gary Oldman, o protagonista George Smiley, é o encarregado de descobrir a identidade de um possível traidor que está fornecendo informações sigilosas para algum agente secreto russo. Os suspeitos fazem parte do alto escalão dos agentes ingleses, chamado também de The Circus, do qual inclusive Smiley fazia parte até se aposentar recentemente contra sua vontade.

O filme é baseado no romance de John Le Carré, que inclusive participa do filme como produtor executivo, e faz parte de uma trilogia escrita por ele sobre o serviço secreto inglês. Inclusive o livro em que se baseia este filme, já teve uma adaptação anterior que virou uma minissérie no final dos anos 70. Le Carré também teve outros romances adaptados com sucesso para o cinema como O Jardineiro Fiel, dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles, e O Alfaiate do Panamá com Geoffrey Rush e Pierce Brosnan.

A nata do cinema inglês atual está presente neste filme. Colin Firth (O Discurso do Rei), Tom Hardy (A Origem), Mark Strong (Sherlock Holmes, Lanterna Verde), Benedict Cumberbatch (da excelente série Sherlock da BBC) são alguns exemplos, além de medalhões como o já citado Gary Oldman e também John Hurt. Se não bastasse o elenco de peso, que facilmente seguraria uma produção mediana, a direção também está na mesma altura. Alfredson nos apresenta os segredos, as mentiras e a difícil relação interna de um Serviço Secreto de uma forma elegante e calma que não se vê em filmes deste tipo. Há um clima de desconfiança geral do início ao fim. E com a trama se revelando lentamente, o diretor prioriza  diálogos inteligentes, ao invés de cenas de ação. É como imagino um departamento de espionagem real mesmo! A história inteligente e complexa pode até fazer você perder a linha de raciocínio e confundi-lo em partes, mas o lado bom é que não deixará você desgrudar os olhos da tela. A ambientação anos 60/70 é primorosa, a trilha sonora encaixa perfeitamente, os diálogos são marcantes  e a trama envolvente... São algumas das qualidades que, somadas a um elenco como esse, faz o filme ser especial.

Não foi lembrado para as premiações do Globo de Ouro, mas ainda é esperado indicações em algumas categorias do Oscar. Irá estrear nos cinemas neste final de semana, dia 20 de janeiro, e é altamente recomendado.

http://www.imdb.com/title/tt1340800


quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

UMA PASSAGEM PARA A VIDA - 2002

Um achado do cinema frânces atual.


Após assistir este filme na última semana, cujo nome original é L'Homme du Train, descobri que uma refilmagem americana dele acaba de sair com o nome Man On The Train. Antes de assistir o remake, na verdade não pretendo assistir, recomendo evitar por várias razões, principalmente, pelo estilo europeu do filme. Não acredito que a refilmagem consiga seguir a mesma linha do original porque, definitivamente, a diferença de estilo de cinema é grande. Já é difícil encarar um bom remake e, nesse caso, prefiro não arriscar. Posso me enganar também...

Na história, um homem misterioso e quieto desembarca de trem em uma pequena cidade. Aparentemente, sem lugar para ficar, encontra por acaso um simpático professor aposentado, solitário e interessado pela possível nova amizade. Completamente opostos, iniciam um relacionamento quase improvável quando o professor oferece sua casa para hospedar o homem misterioso até o próximo sábado. Curiosamente, ambos têm um compromisso neste mesmo dia na cidade.

O professor, que desde o início mostra sua vida regrada e metódica, vai aos poucos demonstrando sua frustração por não ter vivido de outra forma, e o outro homem, seu oposto, vive sem planejar o futuro, mas se apega ao modo simples de vida do professor. O filme caminha desta forma, com os dois cada vez mais interessados em conhecer o estilo de vida diferente de cada um.

O roteiro não traz grandes reviravoltas ou grandes conflitos, até o clímax, porque a ideia é aos poucos mostrar a atração dos dois personagens pela vida oposta que cada um leva... O desenrolar da história pode requerer uma certa paciência inicial, mas quem a tiver, aproveitará uma realização cinematográfica de altíssimo nível que proporciona, além de uma ambientação interiorana primorosa e ótimos diálogos,  que mostram a riqueza de detalhes dos personagens, um desfecho que certamente ficará em sua memória por um bom tempo.

É melhor parar por aqui para que o envolvimento que tive assistindo-o você também possa aproveitar, mas queria apenas complementar mencionando duas cenas, de cada um dos personagens, que estão também frescas na memória e explicam bem a ideia do filme... O professor brincando de pistoleiro em frente a um espelho e o homem misterioso comprando pães na padaria. Simples, porém sintetizam o conceito do filme.

Um filme de bom gosto, refinado, silencioso e tenso em partes, que cativa e emociona, além de outras qualidades mais. Enfim, me deixou extremamente feliz por tê-lo assistido.