Na maior parte, vou tentar comentar e indicar filmes que estejam um pouco fora do circuito comum, pra trazer algumas novas e diferentes opções. E como gosto de filmes antigos também, alguns vão aparecer.
Lógico que nem sempre as opiniões valerão para todos... cada um realmente tem gosto e interesse diferentes!
Vossos comentários e opiniões serão bem vindos!

Um forte abraço e um aperto de mão leve...

terça-feira, 30 de outubro de 2012

O ENIGMA DO OUTRO MUNDO - 1982

O diretor John Carpenter e seu blockbuster?


Ser um diretor cultuado nos gêneros ficção e terror não é para qualquer um. E isso, definitivamente, John Carpenter é. Com altos e baixos em sua filmografia, não dá para negar que ele tem valor para o cinema. Geralmente administrando baixos orçamentos e produzindo filmes quase considerados B, compensa a falta de recursos com criatividade e certa ousadia.
 
Marcou o cinema no final dos anos 70, quando fez Halloween um de seus primeiros filmes. Alí nasceu um dos mais marcantes serial killers do cinema, Michael Myers. E com ele, Carpenter praticamente inaugurou, mesmo havendo controvérsias sobre isso, uma espécie de sub-gênero para os filmes de terror, os slasher movies. A partir de Halloween, este gênero secundário se tornou muito popular, principalmente nos anos 80, e desencadeou uma enormidade de filmes muito parecidos. O mais bem-sucedido, superando o próprio Halloween, foi a série Sexta-feira 13, com a presença dele... Jason.
 
Agora, deixando de lado este assunto, que daria um outro post, e falando mais sobre o filme em questão aqui, O Enigma do Outro Mundo, é possível dizer que este seja um dos melhores filmes do diretor, talvez seu melhor em minha opinião. Não porque parece ser o maior orçamento que já trabalhou (mesmo sendo de 1982 os efeitos especiais não decepcionam), mas o conjunto da obra é de alto nível para um gênero, de certa forma, carente de bons exemplos.
 
A comparação com Alien talvez seja inevitável, até porque O Enigma do Outro Mundo foi realizado pouco tempo depois e o sucesso do primeiro pode ter sido o fator de viabilização do segundo, mas, mesmo assim, isso não prejudica em nada o interesse porque se você gostou de um, gostará do outro com certeza.
 
A história é simples. Um grupo de cientistas/pesquisadores americanos está alocado em uma base na Antartida (bela ambientação do filme, por sinal). A rotina deles muda quando aparecem dois cientistas noruegueses perseguindo e tentando matar um cachorro que vai de encontro a base americana. Com o tempo, os americanos entendem porque os noruegueses queriam matar o cachorro, sem sucesso, e a relação dele com todo o grupo de cientistas noruegueses mortos. 
 
É notável a diferença deste filme do diretor em relação à grande maioria de seus outros filmes, principalmente quando falamos em orçamento. A produção é bem caprichada. Os efeitos especiais e a maquiagem são comparáveis às grandes produções, principalmente para a  época em que foi feito. A trilha sonora, também de alto nível, é composta por um dos mais renomados compositores do cinema, Ennio Morricone. E mesmo que o diretor tenha em mãos maiores recursos, o filme não deixa de ter a sua marca.


De nada valeria a boa produção se o resto não estivesse à altura... E está. Como poucos fazem, Carpenter consegue prender a atenção do espectador do início a fim. O roteiro não é 100% e tem seus furos, mas a sensação de paranóia dos personagens e o clima de mistério que toma conta geral da trama, fazem esquecer as pequenas inconsistências da história. Algumas cenas impressionam, mesmo vendo o filme hoje, e assustam. Ou seja, para o que se propõe a fazer, John Carpenter faz um filme competente e bem acima da média do gênero.
 
Enfim, é uma ótima pedida para quem procura este estilo de filme, até porque, como hoje em dia um bom exemplo deste tipo é raro, vale mesmo suprir a vontade vendo bons clássicos como esse. Recomendado com moderação, para aqueles que não se impressionam facilmente com algumas cenas que podem provocar indigestão.
 

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

COSMÓPOLIS - 2012

Cronenberg de volta as raízes?


Após um período fazendo cinema mais direcionado para o público geral, sem deixar de trazer alguns momentos que definem seu estilo, eis que Cronenberg retoma seu lado perturbador e polêmico, e que o fez ser tão cultuado como é, nesta sua última realização chamada Cosmópolis. Não que seus últimos trabalhos tenham sido ruins, pelo contrário, Um Método Perigoso, Senhores do Crime e Marcas da Violência são ótimos filmes e de altíssimo nível, porém seus mais fiéis seguidores certamente contavam com seu retorno, em algum momento, as suas raízes na linha de Gêmeos, A Mosca, Videodrome e Scanners.
Pois é, o velho Cronenberg está mais próximo de suas raízes em  Cosmópolis. Longe de ser bizarro como nos trabalhos mais antigos citados, o diretor retorna, neste novo longa, aos personagens enigmáticos e situações nada convencionais.
Assim acompanhamos, desde o início da história, o ator principal do filme, Robert Pattinson, o conhecido vampiro boa praça da série Crepúsculo. Ele é Eric Packer e representa um típico homem de negócios do mundo atual, jovem, bilionário e excêntrico. Entende o mundo das ações como poucos e utiliza sua inteligência em benefício próprio.
A aventura desse anti-herói  inicia com sua vontade de cortar o cabelo. Como é uma pessoa visada, atravessar alguns blocos para realizar esta tarefa, mesmo que de carro, requer muita atenção de seu “staff” para garantir sua segurança. Percorre o caminho em sua limusine, ao mesmo tempo em que encontra diferentes personagens de sua vida profissional e pessoal.
Cosmópolis é um prato cheio para os fãs de Cronenberg. Não traz personagens tão complexos, mas os perturbados e problemáticos, que sempre apreciou, estão aqui. E não de graça. Há um tom geral de superficialidade que certamente reproduz o mundo social do business man moderno. Claro que de um jeito bem característico do diretor.

O filme é conduzido, na maior parte, dentro da limusine de Eric, onde ele passa por situações inusitadas, como por exemplo, um exame de próstata que faz ali dentro mesmo. Os diálogos são, quase todos, surreais, como se a intenção do diretor fosse transformar o mundo financeiro de Eric em algo inverossímil ou em um sonho. David Lynch assinaria embaixo. E a presença curta, mas marcante de coadjuvantes de peso como Juliete Binoche e Paul Giamatti, também ajudam bastante no resultado final.

 
O filme é um desafio completo. Um desafio para o diretor, que tenta retomar seu lado mais obscuro, outro desafio para o público que tem de aceitar, apreciar e entender suas ideias, e um desafio ainda maior para o ator principal, que tenta fazer o público esquecer a sua referência de rapaz romântico e bonzinho para ser um personagem detestável.  E ele consegue.
Agora, pra finalizar, vale dizer que este filme não foi bem recebido pela crítica em geral e pelo público. Não me importo e o recomendo, mesmo não o colocando entre as melhores obras do diretor. Está ainda nos cinemas e para aqueles que quiserem encarar o desafio, fica aí a dica.