Na maior parte, vou tentar comentar e indicar filmes que estejam um pouco fora do circuito comum, pra trazer algumas novas e diferentes opções. E como gosto de filmes antigos também, alguns vão aparecer.
Lógico que nem sempre as opiniões valerão para todos... cada um realmente tem gosto e interesse diferentes!
Vossos comentários e opiniões serão bem vindos!

Um forte abraço e um aperto de mão leve...

quinta-feira, 22 de março de 2012

SHAME - 2011

Compulsão sexual tratada com o peso do problema.


Estreou nos cinemas, neste último final de semana, este que é o segundo longa-metragem do diretor Steve McQueen, que já havia impressionado com seu primeiro filme Hunger (importante não confundir o diretor com o antigo astro, já falecido, de Sete Homens e um Destino e Papillon). Após Hunger, que conta a história de um prisioneiro que lidera uma greve de fome, este novo diretor volta com um assunto ainda mais polêmico em Shame. Novamente contando com o mesmo ator, um dos principais do momento, o diretor faz um filme melhor e mais contundente.

O ator principal, Michael Fassbender, vem mesmo marcando muito bem sua presença no cenário do cinema atual. Só neste último ano, apareceu em três filmes de impacto. O blockbuster X-Men First Class, o último do diretor Cronenberg chamado Um Método Perigoso, que ainda passará nos cinemas brasileiros, e neste Shame que talvez tenha sido a interpretação que mais chamou a atenção dos críticos... Foi um dos indicados ao prêmio de ator principal no Globo de Ouro por esta atuação.

Na história deste filme, Brandon (Fassbender) é um homem que tenta conviver com seu vício sexual em uma grande metrópole, Nova York. Seu desafio na vida é administrar o vício com o dia a dia de seu trabalho, até que sua irmã aparece em seu apartamento para ficar por alguns dias. A partir daí, sua rotina muda e Brandon tem que adaptar sua vida a esta nova realidade provisória.

A compulsão sexual, tratada por muitos como algo pouco relevante e até como piada, aqui é inserido como um problema social grave. A primeira cena do filme, com Brandon parado em sua cama por alguns segundos sem se mover e sem piscar os olhos, tem a clara intenção de apresentar um personagem atormentado. A vida sociável bem conduzida e sua aparente independência, na verdade, escondem uma pessoa solitária e arrependida pelos hábitos que não consegue mudar.

Perturbador e reflexivo de forma equilibrada, Shame está recheado de cenas de sexo e nudez, mas não de forma erótica ou sensual. O vício de Brandon chega a ser desesperador em certos momentos. E além da preocupação de ambientar o espectador neste mundo obscuro do personagem, outra qualidade do filme é expor o problema sem a intenção de resolvê-lo, o que deixa a história mais verdadeira e compreensível.

“Action counts, not words”. Curiosamente é uma frase que faz parte dos diálogos de Brandon com sua irmã e transmite uma das mensagens do diretor... Um filme de poucas palavras e mais ação. O clima intenso se deve muito às cenas com tomadas longas e sem cortes. Só para ter uma ideia, é possível perceber a mistura de desejo e angústia do personagem principal através de diversos closes sem diálogos, apenas trocas de olhares.

Enfim, fica a dica para procurar este drama polêmico e convincente nos cinemas, pois está em exibição em diversas salas e vale a pena conferir o quanto antes. Recomendado.

http://www.imdb.com/title/tt1723811


sexta-feira, 16 de março de 2012

UM MISTERIOSO ASSASSINATO EM MANHATTAN - 1993

Mais um Wooody Allen classe A!


Uma oportunidade me fez rever este filme do diretor Woody Allen, que não é considerado um de seus maiores clássicos. Pouco lembrado, infelizmente, tem muitas qualidades que o faz uma realização bem acima da média, além de ser melhor que outros da própria filmografia do diretor. Na verdade, dificilmente um filme de Allen não é, pelo menos, uma realização agradável de se ver.

A história tem como par principal Larry (Woody Allen) e Carol (Diane Keaton), que formam um casal comum de meia idade. Em um determinado dia, conhecem seus vizinhos próximos, um casal mais velho. Surpreendentemente, no dia seguinte, a esposa deste vizinho sofre um ataque cardíaco e morre. A princípio normal, mas alguns acontecimentos fazem com que Carol desconfie que a morte não tenha sido natural. Com uma investigação em mãos e uma possível mudança de rotina, Carol se empolga, mas Larry não leva o caso a sério. Com a ajuda de um amigo, interpretado por Alan Alda, ela tenta desvendar esse mistério. Ao longo dessa investigação, problemas pessoais entre eles virão à tona.

Antes de mais nada, é bom sempre escrever sobre um dos pontos altos de Woddy Allen em suas realizações cinematográficas. Em tempos que acompanhamos novelas, reality shows e alguns filmes que exemplificam diálogos banais e improvisados pelos roteiristas às pressas, nesse filme não há falta de inspiração. Como sempre, os diálogos são inteligentíssimos, bem-humorados e parecem até mais improvisados do que realmente são. E o corpo das histórias do diretor, neste caso uma de mistério, nada mais é do que um belo pano de fundo para sua habilidade em criar momentos divertidos, críticas às relações humanas e um sarcasmo impossível de ser copiado.

Normalmente o elenco dirigido por Allen sempre atua, aparentemente, tão à vontade que parece mesmo uma improvisação do início ao fim. É também muito interessante e prazeroso revê-lo rivalizar seu personagem com Alan Alda, logo após Crimes e Pecados... Há uma química interessante entre os dois quando contracenam juntos, visto nestes dois filmes.

Enfim, é mais um ótimo filme do diretor, sem ser um dos mais consagrados de sua filmografia pelo público. Quem assistir certamente apreciará com um sorriso no rosto do início ao fim. Vale garimpar mais esta obra escondida do incansável Woody Allen.

http://www.imdb.com/title/tt0107507


quinta-feira, 1 de março de 2012

O ABRIGO - 2011

Esquecido pelo Oscar, mais um achado...


O ator Michael Shannon adora interpretar personagens perturbados. Ele é realmente muito bom, mas parece que seu tipo se encaixa perfeitamente no papel de pessoas problemáticas. Foi nomeado ao Oscar pelo seu papel como um homem estranho e violento em Foi Apenas Um Sonho, do diretor Sam Mendes, atuou em filmes perturbadores como Possuídos e Vício Frenético e, recentemente, bateu seu recorde em esquisitice interpretando um homem que está próximo de matar a própria mãe com uma espada, no penúltimo filme de Werner Herzog chamado My Son, My Son, What Have You Done. São papéis difíceis e ele sempre fez muito bem. E neste O Abrigo (nome original Take Shelter), a diferença é que ele fez o seu melhor, pelo menos em relação a estes filmes que acompanhei do ator. Uma atuação de gala complementada com a nova sensação do cinema, e indicada ao Oscar por Vidas Cruzadas, Jessica Chastain.

Michael Shannon interpreta Curtis, um operário comum que leva uma boa vida familiar, com sua esposa e filha, e também bons relacionamentos com amigos e colegas de trabalho. Sua vida tranquila muda quando começa a ter pesadelos e visões apocalípticas. Decide reformar e ampliar o abrigo de sua casa, que existe para eventuais catástrofes da natureza, para proteger sua família de um desastre de grandes proporções que poderá acontecer, de acordo com suas visões. Ao mesmo tempo, entende também que tem um histórico familar de esquizofrenia, por parte de mãe, que pode ser uma das explicações para suas alucinações.

Sem Michael Shannon, talvez o diretor, Jeff Nichols, não teria o mesmo resultado poderoso que teve com este filme. O ator tem a proeza de conseguir gerar no espectador sentimentos de compaixão e medo ao mesmo tempo. Há cenas brilhantes no filme... O surto em público de Curtis é memorável. E ainda tem a bela atuação da mais nova queridinha do cinema americano, Jessica Chastain, que faz a esposa de Curtis. Ela complementa a boa escolha de elenco que trabalha em sintonia.

Méritos também para o diretor que faz uma direção segura no filme, sem cair em clichês, e leva uma mistura de sensações para quem o assiste. O filme é provocativo, emocionante, dramático, apavorante e levará o público, provavelmente, a questionar e debater o desenvolvimento da história e o seu final.

Esquecido pelo Oscar, mas lembrado em diversos festivais (incluindo Cannes), infelizmente, na programação dos próximos meses nos cinemas brasileiros, sua exibição não está relacionada. É uma pena, até pela boa repercussão que recebeu fora de nosso país. Sua exibição na tela grande seria bem interessante. De qualquer forma, fica a dica e a recomendação para a busca pela internet, até sua distribuição nas locadoras que pode demorar...