Ser um diretor cultuado nos gêneros ficção e terror não é para qualquer um. E isso, definitivamente, John Carpenter é. Com altos e baixos em sua filmografia, não dá para negar que ele tem valor para o cinema. Geralmente administrando baixos orçamentos e produzindo filmes quase considerados B, compensa a falta de recursos com criatividade e certa ousadia.
Marcou o cinema no final dos anos 70, quando fez Halloween um de seus primeiros filmes. Alí nasceu um dos mais marcantes serial killers do cinema, Michael Myers. E com ele, Carpenter praticamente inaugurou, mesmo havendo controvérsias sobre isso, uma espécie de sub-gênero para os filmes de terror, os slasher movies. A partir de Halloween, este gênero secundário se tornou muito popular, principalmente nos anos 80, e desencadeou uma enormidade de filmes muito parecidos. O mais bem-sucedido, superando o próprio Halloween, foi a série Sexta-feira 13, com a presença dele... Jason.
Agora, deixando de lado este assunto, que daria um outro post, e falando mais sobre o filme em questão aqui, O Enigma do Outro Mundo, é possível dizer que este seja um dos melhores filmes do diretor, talvez seu melhor em minha opinião. Não porque parece ser o maior orçamento que já trabalhou (mesmo sendo de 1982 os efeitos especiais não decepcionam), mas o conjunto da obra é de alto nível para um gênero, de certa forma, carente de bons exemplos.
A comparação com Alien talvez seja inevitável, até porque O Enigma do Outro Mundo foi realizado pouco tempo depois e o sucesso do primeiro pode ter sido o fator de viabilização do segundo, mas, mesmo assim, isso não prejudica em nada o interesse porque se você gostou de um, gostará do outro com certeza.
A história é simples. Um grupo de cientistas/pesquisadores americanos está alocado em uma base na Antartida (bela ambientação do filme, por sinal). A rotina deles muda quando aparecem dois cientistas noruegueses perseguindo e tentando matar um cachorro que vai de encontro a base americana. Com o tempo, os americanos entendem porque os noruegueses queriam matar o cachorro, sem sucesso, e a relação dele com todo o grupo de cientistas noruegueses mortos.
É notável a diferença deste filme do diretor em relação à grande maioria de seus outros filmes, principalmente quando falamos em orçamento. A produção é bem caprichada. Os efeitos especiais e a maquiagem são comparáveis às grandes produções, principalmente para a época em que foi feito. A trilha sonora, também de alto nível, é composta por um dos mais renomados compositores do cinema, Ennio Morricone. E mesmo que o diretor tenha em mãos maiores recursos, o filme não deixa de ter a sua marca.
De nada valeria a boa produção se o resto não estivesse à altura... E está. Como poucos fazem, Carpenter consegue prender a atenção do espectador do início a fim. O roteiro não é 100% e tem seus furos, mas a sensação de paranóia dos personagens e o clima de mistério que toma conta geral da trama, fazem esquecer as pequenas inconsistências da história. Algumas cenas impressionam, mesmo vendo o filme hoje, e assustam. Ou seja, para o que se propõe a fazer, John Carpenter faz um filme competente e bem acima da média do gênero.
Enfim, é uma ótima pedida para quem procura este estilo de filme, até porque, como hoje em dia um bom exemplo deste tipo é raro, vale mesmo suprir a vontade vendo bons clássicos como esse. Recomendado com moderação, para aqueles que não se impressionam facilmente com algumas cenas que podem provocar indigestão.